dela de roupa à paisana correspondia a óculos de sol espelhados e um casaco de
cabedal maltratado por cima de uma t-shirt, com umas calças que Reacher
julgou serem sobras dos fuzileiros como as dele, mas que afinal se revelaram
autênticas Ralph Lauren. Ela trazia uma mala, e ele, não. Os lugares eram em
classe turística, mas luxuosos comparados com bancos de lona num transporte
militar. Comeram, reclinaram-se um nadinha e adormeceram.
Vinte e quatro horas depois de o americano se ter ido embora, o apartamento
da prostituta encontrava-se bem menos perfumado do que já tinha estado. Ou
mais perfumado, rigorosamente falando, só que com o odor errado. Que se
começava a notar no corredor e através da ventilação da cozinha. Os vizinhos,
que já estavam de má vontade, chamaram a polícia a meio da noite. A central
enviou um carro-patrulha para dar uma olhadela. Ou, mais propriamente, uma
cheiradela. O que fez com que o porteiro fosse acordado, com uma chave mestra.
O que levou a quatro horas de detetives, perguntas, fitas de segurança, técnicos
forenses no local do crime e, por fim, uma ambulância e um saco de plástico da
morgue.
Boas e más notícias, do ponto de vista da polícia. Hamburgo era uma cidade
portuária turbulenta, com uma zona de prostituição mundialmente famosa, além
de drogas e grafítis na estação de comboios, mas, ainda assim, o homicídio era
uma coisa relativamente rara. Menos de um por semana. Um cadáver continuava
a ser um acontecimento. Podiam construir-se carreiras. E a polícia reivindicava
uma taxa de sucesso próxima dos noventa por cento. Essa era a parte boa. A má
era que os restantes dez por cento por resolver tinham que ver com agarrados
esfaqueados ou prostitutas estranguladas. Ossos do ofício. Não era provável que
aquele crime fosse dar que falar. O mais certo era o autor já estar em pleno
oceano, num beliche de um navio, a cento e muitos quilómetros de distância, a
caminho do mar alto.