Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

desastre. Alguém se lembraria. E ele seria despedido, evidentemente. E ficaria
divorciado, claro. E cairia em desgraça.
Abriu o envelope do médico-legista. Leu os factos nus e crus. Conhecia
aquele pescoço. Era comprido, esguio e delicadamente claro. Sabia que ela
gostava de cuscuz. E sabia que ela engolia.
Virou a última página e viu a nota pessoal. Destro, estatura média, peso
inferior ao normal, estrutura óssea pronunciada, seco em vez de musculoso.
Como um corredor de fundo.
Griezman sorriu.
Media dois metros e pesava 136 quilos. Em termos americanos, seis pés e
seis polegadas e trezentas libras. Quase tudo gordura. Comia salsichas com puré
de batata ao pequeno-almoço. A última vez que tinha visto um osso tinha sido
num raio X.
Nada que ver com um corredor de fundo.
Disse à secretária para convocar uma reunião. A equipa foi chamada. Os
detetives dele. Disse:
— Está na altura de definir alguns novos parâmetros. Vamos presumir que a
vítima foi de carro até ao hotel, mas que a engataram antes de lá entrar. Talvez
um encontro fortuito no próprio parque de estacionamento. Possivelmente, um
cliente habitual. Possivelmente, uma daquelas coisas já-não-nos-vemos-há-tanto-
tempo. O que nos diz que ele tem dinheiro que chegue para lhe pagar, mas que
não fica hospedado no hotel, caso contrário, ela ter-lhe-ia proposto o quarto dele
como primeira preferência. Por isso, o tipo morava ali na zona ou então estava a
dormir noutro sítio. A questão é: teria carro? Provavelmente, já que estava no
parque de estacionamento. Mas, possivelmente, não, já que o parque também
funciona como atalho para o outro lado do quarteirão. E, nesse caso, é possível
que tenha sido a própria vítima a levá-lo para casa. E, nesse caso, devíamos ver
que impressões digitais encontramos dentro do carro. Pelo menos, nos puxadores
das portas e no fecho do cinto de segurança.
Os detetives foram tirando apontamentos.
E Griezman prosseguiu:

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