Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

membro do pessoal do Departamento de Estado, requisitada de emergência, com
duzentas fotografias de passaporte lá dentro. O que era uma grande quantidade.
Cada fotografia estava colada a um ficheiro, com um nome e um número de
passaporte. Reacher e Neagley olharam para algumas. Foram-nas passando entre
eles como se fossem cartas de jogar. Deram com o expatriado residente em
Hamburgo. O tal da contracultura, com a guedelha toda espetada. A foto oficial
tinha melhor qualidade do que a da publicação underground. Mais lustrosa e
muito mais nítida. De tamanho normal, com fundo em branco. O tipo tinha os
olhos fixos em frente, cheios de provocação. Uma cabeça grande e um pescoço
fino.
— Não é ele — atirou Reacher.
— E porque não? — retorquiu Neagley.
— Por causa do cabelo. Ele tem de fazer alguma coisa para o pôr assim. Nem
que seja não fazer absolutamente nada. É uma opção. É uma afirmação. Está a
dizer, olhem para mim, tenho um cabelo interessante. Como os tipos que usam
chapéu. Estão a dizer, olhem para mim, tenho um chapéu interessante. É tudo um
bocadinho desesperado, não achas? Insegurança, calculo. Como se o que
estivesse cá dentro acabasse por não ser suficiente. E essas pessoas não
escrevem correções de software capazes de rebentar com o universo conforme o
conhecemos. E se formos suficientemente inteligentes para escrever uma coisa
dessas, e suficientemente inteligentes para a vender por cem milhões de dólares,
tudo em segredo, então não somos inseguros. Nem sequer um bocadinho de
nada. Somos os melhores de todos os tempos. Somos os reis do mundo.
Guardaram as fotos no saco e comeram a refeição. Neagley estava sentada à
janela e adormeceu afastada de Reacher, com a cabeça encostada à parede da
fuselagem. Assim havia menos perigo de contactos acidentais. Reacher deixou-
se ficar acordado. Estava a pensar na testemunha. O funcionário municipal com
as opiniões ofensivas. Possivelmente, um desperdício de tempo. E,
possivelmente, o homem que acaba por salvar o universo conforme o
conhecemos. Reacher queria olhar para ele. Sentia-se como o avião, a acelerar
para leste, ao encontro da alvorada.

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