REVISTA VOO LIVRE- EDIÇÃO DE FEVEREIRO - Nº 19

(MARINA MARINO) #1

Poesia por Marta Cortezão


Este tema me atravessou a
gargantaneste mês,meu sogrofez a
passagemdepoisdecumprircomsua
missão nesta existência carnal. Ele
partiu, placidamente, às 8 h 30 m de
umamanhãinvernaldaEspanha,dia
04 de fevereiro, com seus quase
oitentaecincoanos.Fezaviagemno
silêncioconfortável de suacama, na
companhiadamulherqueamavacom
devoção.Pepe,comocarinhosamente
erachamado,jáesperavasuapartida,
assimquefoiserluznoincognoscível,
e eu me ensimesmei nos poemas,
buscando lugar para o meu
desassossegoafimde“nãobanalizar
avida”epintá-lacomascoresdotão
difícilfim,porquealiteraturaétudo,
inclusivebálsamoparadiastristes.
Encerrei-meparadaratençãoà
morte, como sugere Hilda Hilst, na
citação acima, ao falar sobre o seu
processo criativo no livro Fico besta
quandomeentendem,ondeCristiano
Diniz reúne uma série de várias
entrevistas com a autora. Mergulho
neste universo, com o “carnê” de
leitoranasmãos,jáque,comoafirma
Otávio Paz, “sem leitor, a obra só
existepelametade”esegui,emmeio
aosmeusinfortúnios,deposse


também dos sentimentos
apreendidos nesta viagem que é a
vida, enquanto não-morte, na
intenção de experimentar este
aguçadoolhardapoeta,aoquenada
escapa, pois está sempre atento a
tudo à sua volta: “é inútil ficar
dizendoqueumpoetaouumescritor
precisam ser naturais, uma vez que
elessãoédiferentes,mais atentos,e
captam coisas e estados emocionais
que os outros não veem ou não
sentem. Porque sabem que emtudo
hásacralidade.”(p. 08 )
E foi assimque embarqueiem
minhas sacralidades interiores,
buscando respostas para a aflição
sentida e ressentida. No poema
Apenas,deDilercyAdler,deparei-me
com a temática que me remeteu ao
carpe diem horaciano, quando o eu
líricodirigeumasúplicaaoseramado
paraquesevivaesteamor,antesque
a vida seja consumida pela certeza
inquestionável da finitude (“antes
que eu morra de verdade/ pois a
certeza da morte [...] é
inquestionável”), porque o tempo é
célere paravidatãocurta(“o tempo
passa a passos largos”) e que logo
serápó.
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