REVISTA VOO LIVRE- EDIÇÃO DE FEVEREIRO - Nº 19

(MARINA MARINO) #1

Poesia por Marta Cortezão


Querovivercadaátimodesegundo,
comosefosseoúltimo.
Queroprovartodoamordomundo
easortedeumamortetranquila.
E em derradeiro e entrelaçado ao
outro,umpedido:
− Quero fazer do meu hoje um
presenteeumpoemainconcluso,
porque dependo de ti, meu amigo,
meuamor,meuirmão,
para,noritmodaternuravivida,nas
amarrasenosabordavida,
transformá-loemoração.
Quero, quero muito, numa dessas
noitesenluaradas...

Umabrisa de tranquilidade se
abateu sobre mim, li com a vista
embaçadapelaslágrimasquepediam
passagem.Avidadoentequeridoque
partiu não deve me apagar, pelo
contrário, ela se acende dentro da
minha,comasabedoriadivinadoser
que sabedesuafragilidadehumana,
“queentendeavida comoogrãode
areiaentende/aimensidãodomar!”
edesejei,comloucura“fazerdomeu
hoje um presente e um poema
inconcluso” e me recolhi nos braços
de um terno Adeus, deparando-me
comopoemadeTaináVieira:


ADEUS (p.356)

Quisera eu ter a sorte
de poder falar com a morte
e implorar pela tua vida
prolongando assim a ida

desse amor que me faz bem.
Queria eu poder prender-te
bem aqui dentro, no ventre
feito feto que não nasce

mas fica no pensamento
tecendo uma nova vida
em um mundo diferente
deste que agora termina.

Abelezamelódica,presenteem
cada verso, marcava o compasso de
meus batimentos cardíacos e, como
bússola orientavam esta viagem
interior. O eu lírico, que deseja o
diálogocom amorte,traz, naúltima
estrofe,amemóriacomoestenovelo
infindável que tece e destece outros
mundosparaguardaroentequerido
em outras formas de vida, talvez
naquela que poderia ser a única e
possível adversária da morte: a
literatura, pois verba volant scripta
manent.Deparo-mecomamorteviva
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