CausosdoCabete | 20
atônitos pescadores com as redes abarrotadas de peixes e uma
“história de pescador” inacreditável. Quem for pescar pelos rios
de Guaratinguetá certamente ouvirá esta história. A brincadeira
custou-lhe caro. A hélice do avião desbalanceou e teve que ser
substituída.
Quem lucrou fui eu, que ganhei a bela hélice de pau marfim que
hoje está enfeitando a varanda de minha casa.
Mudei-me para São Paulo em 1978 e logo, minha esposa e eu,
fizemos amizade com mais um caipira aviador e sua esposa. O
descendente de italianos Ângelo fala alto, xinga bastante e se acha
destemido, desbravador, inventor, entre outras coisas. Inventou
de fazer três filhos e quase não deu conta, cada um foi saindo com
a boca maior que a do outro. O mais novo, cada vez que chorava,
engastalhava os dentes nas orelhas e dava o maior trabalho
desengastalhar o menino. Acabou ficando com o apelido de “o boca”.
Destemido, certa vez o Ângelo vinha chegando do trabalho de
terno e pasta 007 na mão. Viu a prancha de skate das crianças no
corredor. Tomou impulso e com muita velocidade pulou sobre o
skate. A prancha rodou suavemente até o fim do corredor, no
exato tempo em que o Ângelo levou para subir e cair de costas
quebrando duas costelas. Após fazer seu pé de meia na cidade,
tirar brevê de piloto e tomar raiva de computadores (trabalhava
como analista de sistemas), o Ângelo resolveu voltar às raízes. Jun-
tou um bom patrimônio que havia constituído, mais uma boa he-
rança de sua esposa e foi alimentar bicho-de-pé em uma bela fa-
zenda que adquiriram em Tupi Paulista, interior de São Paulo.
Como na época a moda era plantar cana, de cara ele plantou cem
hectares. Plantou e cuidou muito bem pois tinha dinheiro na pou-
pança. O canavial ficou lindo. Esqueceu de combinar a venda da
cana antecipadamente. Quando foi tratar na destilaria ficou saben-
do que àquela altura da colheita a destilaria só aceitaria a cana se
ele a colhesse e entregasse, pois toda mão de obra e frota estava
comprometida. Aquela foi uma noite terrivelmente mal dormida.
Caso perdesse o canavial o fiasco seria grande e sua carreira como
fazendeiro terminaria ali. Acostumado a administrar crises em seu
trabalho na cidade agora tinha que aplicar ali toda sua experiência.