Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
Caipiras aviadores | 21

Pela manhã o Ângelo pulou da cama cedo, avisou a esposa para
fechar os porcos no chiqueiro e não deixar as crianças saírem de
casa, ninguém poderia se aproximar do canavial! Foi sua ordem
expressa para a esposa e empregados. Saiu em disparada, com a
caminhonete, em direção à cidade. Antes do almoço ouviram um
barulho estranho ao longe que foi crescendo em direção à fazen-
da. Era o Ângelo com um helicóptero!
Assim que foi chegando, começou a balançar o helicóptero late-
ralmente e o mesmo parecia o pêndulo do relógio cuco que ti-
nham na sala. Quando estava bem próximo do canavial, com uma
oscilação maior, ficou de ponta-cabeça com o helicóptero. Abai-
xou até quase tocar o solo e entrou pelo canavial afora. Nunca se
viu nada igual. A nuvem de poeira que se levantou era enorme e
quando abaixava não se podia acreditar na cena: havia uma verda-
deira estrada limpinha no meio do canavial com duas fileiras de
cana amontoadas às suas margens.
Após quase uma hora em que o Ângelo estava cortando a cana
com seu aparador de grama gigantesco começaram a chegar ca-
minhões e carregadeiras que havia contratado na cidade. Até o
final da tarde ele já havia cortado os cem hectares, só parando
para abastecer o helicóptero e limpar e afiar as hélices. Os cami-
nhões trabalharam a noite toda e o dia seguinte todo para conse-
guir transportar toda a cana. A história correu a região e os fazen-
deiros fizeram fila na estrada para ver aquela enorme área total-
mente limpa quando, no dia anterior, era um imenso canavial.
A partir deste dia os coitados dos gansos da fazenda ao ouvirem
barulho de avião ou helicóptero passaram a andar de cabeça baixa
o que para eles é bastante difícil e desengonçado devido o enorme
pescoço... Infelizmente nem tudo é alegria. A aeronáutica ficou sa-
bendo do feito e caçou o brevê do Ângelo por pilotagem perigosa.

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