O tempo avua | 23
O tempo avua
Naquele tempo, que não está tão longe como alguns irão imagi-
nar, havia uma preocupação muito maior com os relacionamentos
humanos, gastava-se muito mais tempo com um bom bate papo e
com a preparação de um “agrado” para as crianças.
Eu e meu irmão mais velho (dois anos) Tadeu estávamos na
escola de roça do Congonhal, que era também uma estação de
parada (e partida, é claro) das composições da São Paulo e Minas
com suas barulhentas “marias-fumaças” movidas à lenha. Cerca
de dez quilômetros atrás, ou adiante (conforme o sentido), estava
nossa querida e já bem conhecida Altinópolis.
Nosso avô Manoel Joaquim Soares, português legítimo, foi o
primeiro prefeito da cidade e, quando em viagem pela “São Paulo
e Minas”, chegava a fazer uso de sua autoridade para parar o trem
ao lado de algum canavial e, junto de outros senhores, colher cana
para adoçar a viagem das senhoras e moças alojadas nos vagões de
madeira da composição. Alguém já imaginou hoje, um prefeito de
São Paulo, tentando parar o Metrô para descer e comprar refrige-
rante em algum boteco ao longo da linha?
Nossa avó materna, Celuta, era uma pessoa rara. De físico
franzino e personalidade robusta sabia cativar a todos e cuidar de