CausosdoCabete | 24
nós com muito carinho. Nesta época, no sítio, não
tínhamos energia elétrica e nenhum de seus confor-
tos. As carnes eram conservadas em latas de banha
ou andando sobre suas próprias pernas. Quando raramente
íamos à cidade nosso maior prazer eram os picolés de coco
queimado da padaria do Corchini.
Às vezes éramos surpreendidos durante as aulas (que reu-
niam alunos da primeira, segunda e terceira séries em uma
mesma classe) por visitas do chefe da estação do Congonhal,
avisando que chegara alguma “encomenda” da cidade e que
deveríamos retirar no final da aula para levarmos a nossos pais.
Quando a tal “encomenda” era um grande caldeirão de
alumínio todo suado e com a tampa presa com um elástico de
câmara de ar de bicicleta, nosso coração batia mais rápido e tomá-
vamos o rumo do sítio o mais depressa que podíamos andar, pois
sabíamos que a carga era preciosa.
Chegando em casa todos os irmãos se reuniam à volta do famo-
so caldeirão suado, éramos um punhado nesta época, não me lem-
bro bem se seis ou sete ou oito. Nossa mãe, fazendo o maior
suspense, abria a tampa do caldeirão e revelava em seu interior
outro caldeirão menor, sendo que o espaço entre um e outro esta-
va preenchido com água e gelo, que rapidamente disputávamos.
Dentro do caldeirão menor estava a maior prova de estima e cari-
nho de nossa avó Celuta: um punhado de picolés de coco queimado!
Meus amigos, essa prova de amor aconteceu
várias vezes, há apenas algumas décadas. Hoje
ainda vejo, raramente, algumas provas de amor
de tamanha grandiosidade e simplicidade.
O maior presente para nossos filhos e netos
não precisa ter pilhas alcalinas, megabytes de
memória e nem botões coloridos. Nosso maior
presente precisa ter uma sincera dose de amor
e, com certeza, nunca será esquecido, assim
como nunca esquecerei minha querida e meiga
vó Celuta. Que doce de leite delicioso ela sabia
fazer!
Foto: Helenice Biava
Vó Celuta com os netos | Soraia e Nei