Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
O galo capão | 33

O galo capão


O Zé Alves era um destes homens caprichosos. Fazenda sempre

bonita, bem cuidada, pomar com os troncos das árvores sempre
caiados de branco, igualmente à sua sede, sempre pintadinha de


novo, de branco e azul. Cafezal todo alinhadinho e bem carpido,
gado holandês sadio e roliço, chiqueiro limpinho com aqueles


porcões cor-de-rosa e os caipiras, de brinquinho, com manchas
negras sobre o fundo branco.


A bomba d’água cabeçuda batendo dia e noite e dando suas gol-
fadas de água para toda a criação. A galinhada solta no terreiro


correndo atrás das tanajuras era uma verdadeira festa naquela mis-
tura de raças. Tinha carijó, pescoço pelado, garnizé, galo índio,


peru, pato, ganso, galinha-d’angola e outros tantos bichos de pena
e bico.


O Zé Alves só não era muito caprichoso consigo mesmo. A
calça sempre caindo, só não acabava de cair por milagre, pois não


tinha onde se enganchar. O homem parecia uma tábua bem
aplainadinha quando visto por trás. O seu andar rápido e elétrico


o livrou de muitas picadas de cobra. Eu mesmo vi uma jararaca
tentar acertar sua perna e errar o bote. Foi num trilho de gado na

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