Perdigueiro bem treinado | 43
Perdigueiro bem treinado
No tempo em que se podia caçar perdiz (e tinha perdiz pra ser
caçada) Altinópolis tinha mais cachorro perdigueiro que qualquer
outro bicho. Pra se treinar bem um perdigueiro tem que ter paciên-
cia, eles são ótimos de faro mas são um pouco lerdos dos miolos.
O Zezim da venda era especialista em treinar perdigueiro, arte
que ele aprendeu lá no Monte Santo de Minas e acrescentou mais
umas invenções próprias. Fazia uma bola de meia, recheada com
penas de perdiz e codorna. Começava com uma brincadeira em
que se joga a bola e o cachorro vai buscar, só que esta brincadeira
ia virando coisa séria onde a bola era escondida e o cachorro tinha
que ir encontrar, depois chegava no ponto em que ele encontrava
mas não podia pegar. Tinha apenas que apontar onde estava, tinha
que “amarrar” a perdiz ou codorna, situação em que o cachorro
fica todo duro, do focinho à ponta do rabo fica tudo esticado como
se o mesmo fosse uma flecha indicando em que moita estava o
passarinho.
Neste ponto, quando o cachorro “amarrava” a perdiz o caçador
atento chegava por trás do mesmo e, já tendo armado sua espin-
garda, dava um cutucão com o joelho na bunda dele. O cachorro
dava um salto espantando a ave que voava e era abatida pelo caça-
dor em pleno ar. Deixar um perdigueiro neste ponto era tarefa de
muita paciência e perseverança.
O Zezim da venda sempre que tinha um perdigueiro já velho
começava a treinar outro filhote pois precisava também de tempo