Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
CausosdoCabete | 70

o tempo. O estranho é que, no caso dele, o
defeito era da arma e não da pólvora, que
ele até colocou para secar no sol sem resul-
tado. Chegou ao ponto de puxar o gatilho, ouvir o
barulhinho de fritar e ele ficar na mira por longos minutos
até o tiro sair. Às vezes o inhambú sumia, aparecia outro e ele
continuava a mirar até que o tiro saía e abatia a mistura do dia.
Um dia ele mirou uns três ou quatro e nada do tiro sair. Desistiu
pensando:



  • Vai ver que este negou!
    Voltou para casa desanimado e passou pelo paiol para pegar umas
    palhas e fazer um cigarro. Pegou a espingarda pela ponta do cano
    para colocá-la encostada na sacaria de café e neste momento, mais
    de hora após ter disparado, o tiro saiu! Fez um grande estrago em
    sua mão sendo que um dos dedos ficou troncho até hoje.
    Triste com o ocorrido, e para poder se tratar adequadamente,
    mudou-se com a família para a cidade de Franca. A “Franca do
    Imperador”, como a chamamos. Em Franca continuou a adminis-
    trar fazendas, mas viajando todos os dias e morando na cidade, o
    que facilitava o estudo das filhas e de seu filho caçula.
    Seu caçula, apegado que era ao cachorro, levou o Totó para seu
    quintal e sempre que chegava da escola ia brincar com ele. A cerca
    do quintal, como em muitas casas do interior era de taquara de
    bambu, dava para um terreno baldio, no qual fizeram uma horta e
    plantavam alguns pés de milho. Nesse terreno havia outra cerca
    que dava para o quintal de uma bela casa com um grande gramado
    e que era a casa do delegado da cidade. Viviam arrumando a cerca
    para que o Totó não incomodasse aquele ilustre vizinho. Vai saber
    qual seria a reação do mesmo!
    Um belo dia, em seu aniversário, a filhinha do delegado ganhou
    um belíssimo coelho daqueles bem peludos e branquinhos dos
    olhos vermelhos. Ganhou até casinha para o bichinho de estima-
    ção. O cuidado, com a cerca e com o Totó, passou a ser redobra-
    do, pois o danado do vira-lata vivia namorando o coelhinho da
    vizinha pelos vãos da cerca. Um sábado à noite, a família do dele-
    gado tinha viajado, aparece na cozinha o Totó, feliz da vida, com o
    coelho todo sujo de terra, entre os dentes, mortinho da silva.

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