Mané III | 71
A tensão foi instantânea e geral. E agora? O que fazer? O Mané,
que não é de desistir fácil, tomou um aperitivo para clarear as idéi-
as, matutou um bocado e decidiu:
- Não foi o Totó! Vamos fazer parecer que foi morte natural!
Vamos lavar bem lavado o coelho, secá-lo e colocá-lo em sua casi-
nha. Por via das dúvidas prendemos o Totó na coleira até eles vol-
tarem da viagem!
E assim foi feito. Lavaram o coelho com o melhor shampoo que
tinham, passaram creme rinse e secaram com o secador de cabelo.
O coelho nunca esteve tão lindo, cheiroso e morto!
Ajeitaram o bichinho em sua casinha e passaram o resto da noite
de sábado e também o domingo, na maior tensão. Todos falavam
baixo como se estivessem velando algum parente. Na realidade
estavam tentando ouvir se os vizinhos já haviam chegado ou não.
Na tarde de domingo ouviram uma grande gritaria no quintal do
delegado e correram até a cerca para ver o que acontecia. A cena
era tétrica: a criança chorava e gritava, em coro com a mãe, as duas
ajoelhadas ao lado do coelho. O delegado andava de um lado para
o outro sem saber o que fazer com a situação, até que
os viu espiando pela cerca e foi até eles, quando o
Mané, com a maior cara-de-pau, perguntou: – O
que foi que aconteceu? O coelhinho da menina
morreu?
Ao que o delegado respondeu: - Sim, o coelho morreu de sexta-feira para
o sábado e antes de viajarmos eu e minha es-
posa resolvemos enterrá-lo. Íamos dizer a mi-
nha filha que ele havia fugido! Agora o en-
contramos na sua casinha! E nem sujo ele está!
Está até cheiroso! É um mistério!
Até hoje esta misteriosa história é contada
em Franca e já a vimos até na internet. Cada
vez que alguém a conta perto do Mané ele fica
com um sorriso maroto e misterioso de quem
sabe qual é o santo responsável pelo milagre
do coelho desencarnado.