CausosdoCabete | 90
Caldas e tudo foi bem até esta pitoresca cidade do Sul de Minas
Gerais. Saindo de Poços de Caldas para Pouso Alegre tivemos uma
grande surpresa: roubaram a estrada! É isto mesmo! O asfalto su-
miu! E roubaram um pedaço aqui e outro acolá!
Passamos por uma pequena cidade onde o prefeito, muito cui-
dadoso, catalogou todos os buracos, pintou suas bordas e, em cada
um, colocou uma bandeirinha com um número. Dizem que nin-
guém pode mexer nesses buracos pois são provas judiciais do rou-
bo do asfalto. Como o Judiciário está abarrotado de serviço acho
que tão cedo os buracos não serão liberados para serem tapados.
Até que ficaram bonitinhos todos pintados e numerados mas a
gente fica um pouco tonto de tanto zigue-zague e zague-zigue que
tem que fazer na estrada.
Logo depois de Pouso Alegre vi em uma placa de sinalização da
estrada a prova maior de que os mineiros são realmente muito
desconfiados das coisas. Antes de uma curva fechada tem uma pla-
ca de “CURVA PERIGOSA” e logo abaixo da frase está escrito
pelo próprio órgão que fez a placa: “É VERDADE!”
Confesso que tomei cuidado redobrado nessa curva. Outro fe-
nômeno interessante nesta região do Sul de Minas é a neblina. Em
certas épocas ela é realmente muito espessa, fica tão fechada que
parece um paredão de teia de aranha. Desta vez eu estava prepara-
do. Levei meu facão Jacaré que, para quem não sabe, é feito na
Inglaterra.
Quando a neblina apertou demais desci do carro e fui abrindo-a
com meu facão e minha esposa vinha atrás, bem devagarinho, com
o carro até atravessarmos aquelas baixadas onde esta estranha ne-
blina se acumulava. Ajudamos dois motoristas de caminhão a des-
vencilhar seus mercedinhos cara-chata que se enroscaram e esta-
vam atrapalhando perigosamente o trânsito. Finalmente chegamos
em Itajubá, após sete horas de viagem para percorrermos quatro-
centos quilômetros.
Sei que os mineiros são muito conservadores mas buraco de
estrada não é algo que se colecione ou se queira conservar, tem
que se deixar o sentimentalismo de lado, não se pode ter este ape-
go tão grande por buracos no asfalto!