CausosdoCabete | 98
pensar que as coisas iriam melhorar, sobre como deveria
orar e sobre como deveria mudar seu linguajar abando-
nando esta mania de falar cinco vezes a palavra desgraça a
cada sete que pronunciava! Ele se esforçou e estava melho-
rando muito. Até sua esposa o estava estranhando, ele nem chuta-
va mais a cadelinha quando chegava do trabalho!
Ele estava muito esperançoso com esta mudança. Iam pra cida-
de (um arraialzinho), seu primo disse que lá tinha água encanada e
o banheiro ficava dentro da casa, uma porta que saía da cozinha,
era uma grande comodidade, comia-se aqui e punha fora logo ali!
Às seis horas o caminhãozinho de seu cumpadre encostou como
combinado e em cerca de hora e meia a mudança já estava toda
sobre o caminhão, era uma mudança pequena e eles já tinham uma
grande prática em fazê-la.
Quando estavam pra partir Deusdety deu falta de seu chapéu
inseparável, herança que seu pai havia lhe deixado quando mor-
reu. Voltou até a casa, desenrolou do prego o arame que segurava
a porta da cozinha e foi direto pro quarto, pendurava sempre o
chapéu atrás da porta. Quando puxou a porta para pegar seu anti-
go Cury número 61 levou um tremendo susto! Atrás da porta ti-
nha uma velhinha toda corcunda, só uns fiapos de cabelo na cabe-
ça, totalmente desdentada e ainda tinha duas grandes verrugas
cabeludas, uma na testa e outra no nariz.
- Quem é a senhora! disse, quase gritando de susto.
- Eu sou a desgraça, aquela que você vivia chamando, como
desta vez você não me chamou eu não posso ir na mudança, tenho
que ficar por aqui!
Nesta hora Deusdety entendeu o que o pastor havia lhe dito
sobre só pensar e falar coisas boas. Pegou seu chapéu e foi-se
embora sem nem olhar pra trás.
Casa nova. Chegaram na cidade e foram para um bairro novo de
casas populares recém-inaugurado. A casinha era pequena mas no-
vinha, tudo limpinho e cheiroso. A meninada começou a correr ao
redor da casa gritando que nem um bando de maritacas. Quando
iam passando pela mãe ela conseguiu acertar um tapa bem dado