® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Às vésperas de sua morte, Marília Mendonça estava faturando entre 10 e 12 milhões de
reais por mês, entre o que recebia do Spotify, Deezer e YouTube, além dos shows e
contratos de publicidade.


Um dos orgulhos de Oliveira é ter sido o primeiro a abrir portas para mulheres no
mercado sertanejo, no qual hoje fazem sucesso artistas como Simone e Simaria e Naiara
Azevedo – nenhuma delas é da WorkShow. “Além da Marília, eu assinei contrato com
a Maiara e Maraisa ainda em 2015”, diz ele. “As duas tinham sido recusadas por um
outro empresário só porque são mulheres. Dou graças a Deus, na verdade, pela burrice
dele”, diz Oliveira, comemorando seu alto faturamento com o sucesso das irmãs mato-
grossenses. A presença de mulheres no segmento deu origem ao “feminejo”, cuja diva
era a própria Marília. Mesmo assim, o mercado sertanejo ainda é um terreno de
homens. Na própria WorkShow, as mulheres representam apenas 20% do elenco da
empresa.


Na certidão de nascimento da música caipira no Brasil consta o ano de 1929,


quando o escritor e músico Cornélio Pires (1884-1958) gravou seu primeiro disco de 78
rotações com canções sobre a vida na roça. Natural de Tietê, no interior de São Paulo,
Pires vivia na capital e era conhecido como “bandeirante caipira”. Desde então, cantar
a vida rural faz parte da cultura nacional. “Mesmo que hoje o Brasil seja um país
majoritariamente urbano, quase todos nós temos pais ou avós criados no interior ou na
roça”, diz o jornalista André Piunti, especializado em música sertaneja. “De alguma
forma, esse estilo de música conecta todas essas pessoas. Festas de aniversário de
cidades e as feiras agropecuárias são parte da diversão da população rural ou de
cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Tocantins e Paraná, os mais importantes dentro do mercado de shows sertanejos.”


Hoje, o sertanejo está no auge. É, de longe, o ritmo mais escutado em rádios
e streaming no Brasil. Dos cinco artistas mais escutados pelo Spotify no ano passado,
quatro são desse segmento: Gusttavo Lima, Marília Mendonça, Jorge e Mateus, e
Henrique e Juliano. Oliveira diz que o Spotify é como uma espécie de Lojas
Americanas da era das redes sociais: “Antes eram as Americanas que mais vendiam
CD”, diz Oliveira. “Agora, é pelo Spotify que as pessoas escutam música e, a cada
apertada no play, centavos entram na nossa conta.”

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