® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

músicas”, diz a nova aposta da WorkShow, a cantora Allana Macedo, uma morena de
voz grave e cabelo de Pocahontas. Quando vai lançar uma música, a WorkShow gasta
cerca de 400 mil reais em jabá, contratando uma média de cinquenta rádios, todas com
alcance de pelo menos um raio de 80 km. “Os sertanejos têm vozes poderosas e são
aplicados, investem, trabalham duro, fazem a roda girar”, elogia Paula Lavigne,
produtora cultural e empresária de seu marido, Caetano Veloso. “Os caras hoje
cumprem o papel antes exercido pelas gravadoras: eles têm estúdios, vão em busca de
parcerias com outros cantores, fazem coreografia para bombar no TikTok.” Mas ela é
radicalmente contra a prática do jabá para as rádios. “Porque só toca quem tem grana,
deixa os menos ricos de lado. O jabá matou o samba no Brasil.”


Wander Oliveira, 53 anos, casado com a namorada de adolescência, Tatiane


de Moraes Soares, com quem tem uma menina de 7 anos, enriqueceu com a música
sertaneja. Em sua fazenda às margens do Rio Araguaia, em Goiás, tem 6 mil cabeças de
gado, um patrimônio estimado em 35 milhões de reais. Cada um dos catorze galpões
climatizados da propriedade reúne 16 mil frangos, e o abate ocorre a cada dois meses –
um negócio que lhe rende cerca de 2 milhões de reais ao ano. Cria oitocentos porcos,
tem gado Nelore para venda de sêmen. A gigante do setor alimentício JBS é seu
principal cliente para a venda de carne. Oliveira também tem produção de leite, que é
comprada por uma cooperativa goiana. Tudo isso pertence à WorkShow Agropecuária,
mas seus negócios se expandem para outras áreas. Ainda mantém a construtora
Múltipla, que deixou de erguer prédios em Palmas para produzir asfalto. É sócio da
Potiguar, uma fábrica de chope, e de uma empresa de placas fotovoltaicas, a
WorkSolar. Para ajudar sua ex-dupla sertaneja Marcos e Fernando, cuja carreira
artística naufragou depois de um sucesso inicial, tornou-se sócio deles numa fábrica de
tinta.


A música, claro, continua sendo seu negócio principal. Ele aparece como sócio em uma
miríade de pequenas empresas formadas por seus artistas (para emitir as notas fiscais
dos shows), cujos nomes soam como títulos de música sertaneja – é a Show Completo,
a Mistura Louca, a Tô Bem Produções, a Nave Balada ou a Sentimento Louco – esta
última, uma sociedade de Oliveira com Marília. Há seis meses, em nome da
WorkShow, ele fechou contrato com a Universal, uma das maiores gravadoras do país,
que passará a trabalhar com boa parte de seus artistas. Como representa hoje metade
de todos os sucessos do sertanejo no país, Oliveira sentou-se para conversar com a

Free download pdf