® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Em um vídeo divulgado nas redes, um dos bolsonaristas comemorou: “Acabamos de
invadir! A polícia não deu conta de segurar o povo. E nós vamos invadir o STF
amanhã!” Havia grupos que corriam de um lado para o outro, agitando bandeiras,
cartazes ou exemplares da Bíblia. Outro rezava o Pai-Nosso, pedindo o fim do
comunismo, a morte ou a prisão de ministros do STF.


Dentro do tribunal, a rotina parecia irreal. “Você faz ideia do que era aquilo?”, diz um
assessor ouvido pela piauí que pediu para não ser identificado porque ainda hoje tem
receio de ser hostilizado pelos bolsonaristas. “De repente, você olhava para o lado e
tinha um cara com um fuzil na mão.” O objetivo da segurança, dentro e fora do
tribunal, era proteger a vida dos ministros e funcionários, mas também manter a
integridade do prédio. “Essas pessoas colocavam a destruição do Supremo,
quebradeira, incêndio, como se fosse a Queda da Bastilha”, diz um ministro que
participou das sucessivas reuniões ocorridas na véspera e no dia das manifestações.
“Para eles, o Supremo é o símbolo da resistência democrática. Já pensou o Supremo
queimando?”


Osonho do presidente Jair Bolsonaro, e isso já deixou de ser um segredo há


muito tempo, é ver o Supremo queimando. Naquele Sete de Setembro, depois de
discursar na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro embarcou para São Paulo levando
uma comitiva de 38 pessoas, entre as quais onze ministros. Como seu discurso em
Brasília fora acima do tom, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, começou a se
preocupar com o que aconteceria em São Paulo, onde Bolsonaro falaria à massa
reunida na Avenida Paulista. Pediu ao colega das Comunicações, Fábio Faria, que,
durante o voo, tentasse acalmar e dissuadir o chefe de insultar os ministros do STF.


Não adiantou nada. “Bolsonaro é muito reativo às redes sociais e, naqueles dias, elas
estavam enfurecidas”, diz um ministro com gabinete no Palácio do Planalto. No
palanque na Avenida Paulista, extasiado com a multidão e seus gritos de “mito”,
Bolsonaro disse que não cumpriria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes e
conclamou-o a deixar o cargo: “Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!”
Ovacionado, Bolsonaro saiu de lá animadíssimo, arrebatado pela presença da multidão
e convicto de que, diante de apoio popular tão expressivo, tinha condições de fazer o
que bem entendesse. Queimar o Supremo, por exemplo.

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