® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Ayres Britto, ex-ministro do STF, explica didaticamente que o presidente


cometeu crime de responsabilidade. Violou o artigo 2º da Constituição (que afirma que
os poderes da União são “independentes e harmônicos entre si”), violou o artigo 78
(que reafirma o princípio da independência e da harmonia) e violou o artigo 85 (no
qual se diz que atentar contra o “livre exercício” dos poderes constitui “crime de
responsabilidade”). “Bolsonaro infringiu todos esses artigos da nossa Constituição que,
ao tomar posse, jurou respeitar. Ele precisa conhecer as quatro linhas de que tanto
fala”, diz Britto. “Bolsonaro instrumentalizou o Sete de Setembro. Alguma coisa precisa
ser feita para acabar com essa aberração.”


Nos dias, semanas e meses seguintes às manifestações, Bolsonaro não deu um pio
contra o Supremo. Próceres do Centrão começaram a bater no peito para dizer que
haviam domado os ímpetos autoritários do presidente. Até que, no dia 12 de janeiro
passado, Bolsonaro voltou – pela enésima vez – a lembrar quem é. Durante uma
entrevista, atacou os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que
relatam ao todo cinco inquéritos contra o presidente. “Quem é que esses dois pensam
que são? Quem eles pensam que são?” Estava irritado com decisões recentes de ambos.
Disse que os ministros estavam “cassando liberdades democráticas nossas”. Acusou
Moraes de agir “fora das quatro linhas” e disse que Barroso entendia de “terrorismo”.


A fotografia de Fux cercado por seguranças e policiais num dia de insurreição golpista
é uma imagem para ser lembrada ao longo de 2022, esse que será o ano politicamente
mais decisivo da história democrática do Brasil. Afinal, haverá uma disputa
presidencial em que o candidato à reeleição insiste em dizer que só deixará o poder
“por vontade de Deus”.


Monica Gugliano


É jornalista e colaboradora do Valor Econômico

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