® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

uma coleção de mais de 2 mil insetos em sua casa. “Tenho também uma de carcaças de
cobras.”


Os passeios pelas praias do litoral paulista, nas férias da família, incentivaram ainda
mais a paixão de Antonelli pela natureza. Quando chegou a época do vestibular, ele
optou pela biologia, que começou a cursar na Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Mas era inquieto demais para a rotina universitária e, aos 17 anos, decidiu
trancar o curso, colocar um mochilão nas costas e embarcar para a Europa.


O plano inicial era viajar por seis meses, mas a aventura se prolongou por três anos.
Antonelli morou na França, na Suíça e percorreu de carona a Europa Oriental. Para se
sustentar, fazia bicos. “Trabalhei de garçom, faxineiro, jardineiro, babá, de tudo.” Foi
para o México, onde bateu ponto como concierge de um hotel. Juntou dinheiro para
praticar mergulho em praias de Cuba e Belize. Depois, decidiu ir para Honduras, onde
se tornou instrutor de mergulho. “Nos parques nacionais hondurenhos, comecei a
perceber os padrões da natureza, o contexto geral. Entendi, por exemplo, como plantas
e animais viajaram pelo mundo, ao longo de milênios, para construir a Terra como
conhecemos. Passei a me interessar pelos processos evolutivos e como eles
transformam o meio ambiente.”


Em Honduras ele conheceu sua mulher, a sueca Anna Sveide, que também dava aulas
de mergulho. Os dois se casaram em 2001 e têm três filhos – Gabriel, de 16 anos, e
Clara e Maria, gêmeas de 15 anos. Antonelli passa parte dos dias em Gotemburgo, na
Suécia, onde vive sua família, e parte em Londres. Cerca de duas horas de voo (sem
escala) separa uma cidade da outra.


Foi na Universidade de Gotemburgo, uma das mais tradicionais da Suécia, que ele
terminou a graduação de biologia. “Ia para as aulas de manhã e à noite. À tarde,
trabalhava como tradutor. Anna, empregada como enfermeira, era quem arcava com a
maior parte das contas” (hoje, sua mulher dirige a ala de uma clínica psiquiátrica).
Durante o doutorado, na mesma universidade, Antonelli realizou suas primeiras
excursões científicas à Amazônia, entre 2003 e 2008. Em 2010, aos 32 anos, tornou-se
curador do Jardim Botânico de Gotemburgo, o maior dos países escandinavos, com 16
mil espécies de plantas.


No mesmo ano, junto com uma equipe de dezoito pesquisadores, publicou na
revista Science um importante estudo, intitulado Amazonia Through Time: Andean Uplift,
Climate Change, Landscape Evolution, and Biodiversity (Amazônia ao longo do tempo:
elevação andina, mudanças climáticas, evolução da paisagem e da biodiversidade).
Nele, demonstrou como processos geológicos e filogenéticos foram a razão da
formidável variedade de espécies da Amazônia. Uma causa crucial foi a elevação da

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