® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Em novembro do ano passado, Antonelli esteve na COP26 com um grupo de 28


cientistas dos Kew Gardens. A missão deles, segundo o biólogo, “foi apresentar
evidências de como soluções científicas sustentáveis, baseadas em sistemas naturais,
podem combater as crises climáticas e a perda de biodiversidade”. Um exemplo dessas
evidências levado a Glasgow foi a semente da Coffea stenophylla, a mesma apresentada
ao presidente do Gabão um mês antes.


Na COP26, Antonelli teve encontros com o presidente da Colômbia, Iván Duque
Márquez, e da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada. A equipe dos Kew Gardens faz
parceria científica com mais de cem países, para realizar projetos como os de
catalogação de plantas na Colômbia e de reflorestamento no México. Com o Brasil,
nada. “Infelizmente, não temos conseguido firmar novas parcerias com o Brasil”,
lamenta. “Espero maior abertura do governo federal para escutar os cientistas e
entender suas prioridades. Mas o que tenho visto é o contrário, com pesquisadores
perdendo bolsas e colegas abandonando os estudos que realizam por falta de apoio.
Muitos estão desempregados.”


Por isso mesmo, Antonelli acredita que pode contribuir mais para o conhecimento
sobre a biodiversidade brasileira fazendo seus trabalhos fora daqui. “Na Inglaterra e na
Suécia tenho todo o apoio necessário para realizar pesquisas mais ambiciosas,
incluindo as coletas e análises que realizo em biomas brasileiros, como na Amazônia.
No Brasil, desde que acabaram com o programa Ciência sem Fronteiras, infelizmente o
país não conta com uma ação federal de peso na área.”


Na COP26, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, disse que o
Brasil zeraria o desmatamento em 2028, adiantando em dois anos o prazo prometido
por outros governos brasileiros em conferências climáticas anteriores. Para explicar o
plano surpreendente, Pereira Leite exibiu um gráfico com dados otimistas do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com a informação de que o desmatamento na
Amazônia teria diminuído 5% entre 2020 e 2021. Na verdade, estava tentando fazer a
plateia de boba.


Em 18 de novembro, seis dias após o fim da COP26, veio a público a notícia de que o
ministério ocultara por mais de um mês as informações reais do Inpe sobre o
desmatamento, que havia aumentado 22% – e não diminuído 5%. Antonelli é taxativo:

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