® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Tradução de Rogerio Galindo


Em outubro de 2019, o velho Chile inesperadamente ruiu. Um aumento na tarifa


do metrô na capital Santiago deu início a semanas de protestos liderados por
estudantes secundaristas, que instigavam os passageiros a pular as catracas. À medida
que as manifestações ficavam maiores, o governo de direita do empresário Sebastián
Piñera respondeu com o uso desproporcional da força policial. Então, no dia 18 de
outubro, o governo mandou fechar todas as estações, deixando milhões de pessoas nas
ruas sem ter como se locomover. A decisão se revelou um erro fatal. Em questão de
horas, os protestos se tornaram gigantescos. Quando a noite chegou, barricadas foram
erguidas em bairros pobres e de classe média. Na manhã seguinte, diversas estações de
metrô nas periferias da capital estavam em chamas. Foi o começo violento daquilo que
seria chamado de estallido social (explosão social).


Os meses de protestos que se seguiram deram início a uma crise em gestação desde o
começo do século XXI. A ordem que estava sendo colocada em xeque era o Chile
neoliberal, planejado durante a longa ditadura militar iniciada em 1973 e que, com
algumas reformas, continuou após a transição negociada para a democracia em 1990. O
símbolo mais tangível desse período é a Constituição ratificada no fraudulento
plebiscito organizado pela ditadura de Augusto Pinochet em 1980. O documento
consolidou uma mescla de democracia limitada e economia de mercado, orientada
pelos interesses de grandes corporações. A Constituição devolveu ao mercado direitos
sociais anteriormente garantidos pelo Estado e, ao mesmo tempo, enfraqueceu os
direitos trabalhistas e sindicais, dificultando a organização dos trabalhadores.

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