® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

gosto de abrir a bolacha e rapar o recheio, antes, com os dentes de baixo,


mamãe ri, me chama de queixada, ... de porquinho,


agora tiro a dentadura de cima e a repasso, desbastando a guloseima em mínimo
arado, com cuidado, pra não a quebrar...,


depois chupo as lascas, lambendo a ferramenta dentifrícia, ... tão gostoso!,


o demônio quer me proibir, tem cabimento?, disse que dá ânsia de vômito,


filha da puta!,


o chifrudo não cospe faísca e golfa enxofre?, hã?,


tomara que morra eletrocutada, cadela do tártaro!,


não, não gosto muito de televisão, uns programas chatos, o aparelho meio muito lá no
alto, dá dor no cangote, ... acho que foi de propósito, sim, pra velharada torcicolar o
pescoço e rumar de volta pro quarto, doce quarto, dando sossego aos funcionários,


os velhotes voltam resmungando sem igual as contas que não batem de um dolorido
flexuoso também na teimosia, penso, em noves fora dos poucos restados dias...,


é até bonito de ver,


cada velhinho tem o seu lugar no pátio,


sim, estes sim, redefinindo o conceito de programação para além do gênero humano,
numa espécie de sobrepostas dores, o que somos, desde o parto, por bem-bom mal-
estar,


eles vêm em bando, andorinhando com dificuldade, as asinhas quebradas, lentas, o
rangido chiado das cadeiras de roda, ... e as bengalas, pontuando a vagareza arrastada
dos chinelos, pshhh, pshhh, toc, pshhh, pshhh, toc..., esse pedido de silêncio das manias,
recorrente, prendendo ao chão os avoados do mundo, em sonoros símbolos,

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