tentei avisar, gritei,
hoje não tem televisão!,
um deles sorriu pra mim, mostrando as gengivas roxas,
outra senhora resmungou qualquer coisa que não entendi,
a maioria nem tchum pra mim, essa é a verdade,
repeti o alerta, acentuando-o com mais força,
hoje não tem novela!, ... roubaram a tevê!,
em vão,
foram se abancando no lugar de sempre, os olhos voltados para o vazio onde ficava o
aparelho,
nenhum espanto, nenhum comentário, nada, todos com o olhar voltado para a tevê que
não havia, compenetrados,
... quando mefistófeles voltou, eu mesmo, também, já me divertia com o último
capítulo da novela,
Conto do livro inédito um treminhão na banguela cruzando sem freios o fusquinha da
vida.
Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira
É escritor. Publicou os romances as visitas que hoje estamos (Iluminuras) e siameses (Kotter)