® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

vida ali existentes. A conclusão é válida também para outros ecossistemas isolados e
está na base da chamada biogeografia de ilhas, disciplina criada pela dupla.


“Sistemas mais diversos funcionam melhor, pois têm mais estabilidade e são mais
resilientes”, explica a ecóloga Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília
(UnB). Eles operam à semelhança de uma carteira de investimentos financeiros, diz ela.
“Se você tiver aplicações diferentes e houver flutuações em algumas, as outras vão
segurar a estabilidade do conjunto.” Da mesma forma, a diversidade biológica pode
garantir a sobrevivência de um ecossistema no caso de perturbações ambientais.


Thomas Eugene Lovejoy dedicou sua carreira ao estudo da Amazônia, onde


colocou os pés pela primeira vez em 1965, quando estava fazendo doutorado sobre as
aves do bioma. Ali, ele ajudou a implantar o mais longevo experimento já feito em
florestas tropicais, iniciado em 1979 e ainda em curso. Tocado em parceria com o
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o projeto tem por objetivo avaliar
o efeito da degradação florestal sobre a biodiversidade. As observações são feitas em
onze fragmentos florestais situados cerca de 80 km ao Norte de Manaus. Com tamanho
de 1 a 100 hectares, eles são cercados por pastagens ou áreas em que a mata está se
recompondo lentamente depois de ter sido derrubada.


Centenas de artigos científicos, teses e dissertações já foram publicados a partir das
mais de quatro décadas de observações feitas nesse experimento. O trabalho ajudou a
resolver uma questão que intrigava os ambientalistas. Eles queriam saber sobre a
melhor estratégia a se adotar para a criação de unidades de conservação: criar uma
única área contínua ou várias reservas de menor tamanho?


O estudo dos fragmentos amazônicos mostrou que certas espécies de sapos, roedores e
borboletas prosperavam mesmo nos trechos menores de floresta. Mas as aves e os
mamíferos que precisam de territórios mais amplos sofrem muito com a fragmentação.
Nos trechos com 100 hectares, metade das espécies de aves desaparece depois de
quinze anos, conforme mostrou um artigo científico de 2003 – aquele que Lovejoy
considerava o mais valioso dentre as centenas que publicou ao longo de mais de meio
século.

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