® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

se sentassem. Logo em seguida, um rapaz de estatura mediana, vestido de jeans,
camiseta e tênis, parou diante da porta de vidro. Viu que o posto de atendimento
estava ocupado e resolveu esperar por sua vez.


O rapaz era Andres Gomez, de 28 anos, olhos castanhos atentos e fala eloquente. Do
lado de fora da sala, ele contou à piauí que pouco antes da pandemia vinha se sentindo
muito angustiado. Havia aberto uma loja de bijuterias e as pressões para obter
resultados positivos no empreendimento só aumentavam. Além disso, estava prestes a
se casar. E, como primogênito, era o principal responsável por cuidar do pai, da mãe e
do irmão. “Eram muitas responsabilidades. Fui ficando deprimido”, disse. “Num
momento de desespero, pensei em acabar com tudo. Botar um ponto final nos
problemas.”


Em setembro de 2019, Gomez procurou um dos centros de saúde de Medellín que
oferecem atendimento psicológico. “Conversando com os psicólogos, percebi que meus
problemas não eram o fim da linha e que eu não precisava morrer para me ver livre
deles. Eu tinha apenas que entendê-los e aprender a lidar melhor com tudo.”


Quando a pandemia ainda se alastrava, em setembro de 2020, a Prefeitura de Medellín
resolveu ampliar o serviço de apoio psicológico, levando-o até lugares de grande
movimentação, como praças e metrô. O projeto ganhou um
nome: Escuchaderos (Escutadores). Seu objetivo é oferecer um espaço de escuta
psicológica gratuita, para que as pessoas exprimam abertamente seus sentimentos e
angústias.


Gomez e sua família pegaram Covid. “Me vi, mais uma vez, sobrecarregado e
preocupado em cuidar de minha família. Eu sempre fui assim, superprotetor com
todos.” Ele decidiu adiar o casamento e passou a frequentar a salinha da estação de San
Antonio pelo menos duas vezes por mês durante a pandemia. Às vezes, se questionava
sobre o que as pessoas no metrô estariam pensando ao vê-lo entrar ali. “Será que
acham que sou louco? Hoje, vejo que sou é corajoso. Antes, eu achava que era melhor
carregar sozinho meus problemas. Não queria demonstrar fraqueza. Até que, um dia,
eu desmoronei.” Os escuchaderos sugeriram que Gomez pensasse primeiro em si
mesmo, na sua própria saúde mental. “Eles me ensinaram que estar bem comigo me
deixará mais forte para ajudar os outros.”


Quando a conversa da psicóloga com os dois irmãos terminou, uma hora depois,
Gomez foi convidado a entrar na salinha. Ele sentou-se em uma das cadeiras e se pôs a
desabafar, gesticulando com as mãos.

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