® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

A psicóloga Daniela Arias faz um atendimento primário na saleta da estação San


Antonio. Dependendo da gravidade do caso, a pessoa é encaminhada a um centro de
saúde. “Aqui é um espaço onde ela expõe seus problemas no trabalho, com a família,
na vida social”, disse. “Nas conversas, fornecemos ferramentas para que possa lidar
com situações que geram desconforto emocional. Temos também uma estratégia de
prevenção ao suicídio.” As salas ficam abertas das 8 às 20 horas, mas
os escuchaderos fazem atendimento telefônico 24 horas por dia.


Alguns vão lá apenas uma vez, para botar para fora algo que os angustia. Outros
voltam com frequência, como Gomez. Há também os que param do lado de fora,
refletindo se devem ou não entrar, e acabam indo embora. “A saúde mental é
estigmatizada e existe muito desconhecimento sobre o que é o tratamento psicológico”,
afirmou Arias. “Muitos acham que não precisam de ajuda profissional porque não
estão loucos. Não entendem que podemos oferecer uma orientação para que a vida seja
mais leve.”


A psicóloga definiu o choque da pandemia sobre a saúde mental das pessoas como
“aquela gota d’água que cai no copo cheio e faz transbordar tudo”. Muita gente teve
que enfrentar o luto de forma intensa, com a perda súbita de familiares e amigos, sem
falar nos problemas com dinheiro. “A pandemia aumentou bastante a responsabilidade
familiar e financeira. Quantas pessoas não perderam o emprego? Além disso, se viram
impossibilitadas de se encontrar com quem gostam, de fazer as coisas que davam
prazer. Elas têm a sensação de que a vida está parada.”


Faltavam poucos minutos para as 20 horas, e a movimentação na Estação San


Antonio diminuía. Um homem alto e magro se aproximou da salinha. “Sabe se ainda
dá tempo de pegar uma consulta?”, perguntou José Inostroza, de 52 anos. Ele trabalha
como motorista de caminhão, mas estava desempregado havia quatro meses.


“Sempre fui muito trabalhador”, disse. “Mas, hoje, sem emprego, eu sinto muito medo.
Medo de não conseguir pagar as contas, de não poder sustentar minha família, medo

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