® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

A secretária de Tolentino, de fato, nos ligava a cada dez minutos para saber como meu
pai estava. Ele falou das viagens que fazia para assinar documentos em nome do grupo
de Tolentino, das contas bancárias de que era titular, das licitações das quais as
empresas do grupo participavam para fornecer equipamentos e serviços ao setor
público. Falou do FIB Bank, empresa da qual ele era sócio e que fornecia garantias para
diversas operações no setor público. Falou que o capital do FIB Bank era lastreado em
precatórios e terrenos. E que ele viajava por todo o Brasil para assinar as garantias
emitidas pelo banco. Disse que semanalmente ia a São Caetano do Sul despachar
documentos em nome da Chocolate Pan, empresa da qual ele também era sócio.


Fiquei impactado por essa conversa, não entendia de onde saíra o dinheiro para tantos
negócios, mas não tive muito tempo para reagir. Na manhã do dia 10, meu pai foi
levado para a sala de cirurgia. Ao colocar o marca-passo, sofreu três paradas cardíacas
e não resistiu.


Fui enterrar meu pai em Londrina, no Paraná, no jazigo da família, conforme ele


havia pedido. Quem pagou as custas funerárias foi a empresa de Tolentino, que se
mostrou solícito naquele momento de dor. Ao voltar a Itapevi, fui até a casa do meu
pai para começar a esvaziar o imóvel. Foi quando me deparei com contratos sociais de
empresas, pró-labores, uma infinidade de documentos que comprovavam tudo o que
ele havia me falado no hospital. Fiquei assustado porque, até aquele momento, eu
ainda desconfiava de que ele tivesse fabricado algumas histórias. Diante daquela
papelada toda, percebi que ele não estava mentindo nem exagerando. Havia falado a
verdade. Os documentos de pró-labore mostravam pagamentos de 4 mil, 5 mil reais
por empresa da qual ele era sócio. (Nunca consegui ter certeza de quantas empresas
meu pai fora sócio, mas cheguei a identificar cinco.)


Com esses documentos em mãos, procurei o escritório de Marcos Tolentino, que
comandava o grupo de empresas. Fui recebido pela advogada Cristiany Rocha de
Freitas. Ela me disse que, a despeito de todos aqueles contratos sociais, as empresas
estavam inativas e meu pai não tinha nada no nome dele. Para comprovar o que dizia,
ela me deu uma declaração de renda mostrando que meu pai ganhava 18 mil reais por
ano – o que dava 1,5 mil reais por mês.

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