® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Nos papéis, meu pai era sócio da MB Guassu, que oficialmente atuava como
administradora de bens e cujo capital social era de 2 milhões de reais. Descobri que a
MB Guassu era a principal acionista do FIB Bank, que, no papel, tinha um capital social
de 7,5 bilhões de reais, uma cifra que me causou enorme espanto. Resolvi consultar a
Junta Comercial e descobri que, ao contrário do que haviam me dito, nenhuma das
empresas estava inativa. Voltei a procurar o escritório de Tolentino em busca de
esclarecimentos. Até aquele momento, eu pensava que estava tratando com pessoas
idôneas, de um grupo de empresas correto, com atividades legítimas.


Na minha segunda visita ao escritório, fui recebido por Wagner Potenza, um dos
braços direitos de Tolentino. Comecei a conversa já num tom alterado. Disse a ele:
“Vamos parar de mentira? Como vocês me dizem que as empresas do meu pai estavam
inativas, que meu pai ganhava 18 mil por ano e que isso era tudo que vocês sabiam, e
eu descubro que há um banco muito ativo no nome dele?” (O FIB Bank, apesar do nome,
não é uma instituição financeira, segundo o Banco Central. Trata-se de uma empresa que
fornece garantias fidejussórias, que são como cartas de fiança.) Potenza tentou me acalmar.
Pediu para que eu não fizesse nada com aquilo, prometeu que falaria com Tolentino e
me daria um retorno.


Nesse meio-tempo, para piorar a situação, fui procurado por promotores do Ministério
Público que queriam saber se meu pai deixara bens. Na década de 1990, meu pai foi
alvo de catorze processos de improbidade, num valor que hoje alcança 600 mil reais.
Por isso, eu fui citado pelo Ministério Público depois de sua morte. Pela lei, nem eu
nem meus irmãos herdaremos a dívida do nosso pai, mas o patrimônio dele precisa ser
informado à Justiça para ressarcir o erário em caso de condenação. Diante da enorme
confusão burocrática, eu não tinha condições de fazer o inventário para apresentar ao
MP, e muito menos de custeá-lo. Como pagaria o imposto de transmissão de bens
previsto no inventário sobre um patrimônio gigantesco, e que eu desconhecia? Eu não
tinha esse dinheiro, nem meus irmãos.


Passaram-se os meses de outubro e novembro de 2020. Como nada se resolvia, procurei
Marcos Tolentino diretamente. No dia 20 de dezembro, fui ao seu escritório. Ele passou
quatro horas falando coisas bonitas sobre o meu pai. Sempre muito cordial, gentil.
Disse que meu pai era seu amigo, que era seu “linha de frente” nos negócios, o
primeiro a chegar ao escritório todas as manhãs, em São Paulo. E fez uma promessa:
“Não se preocupe, vou pagar todos os custos do inventário.” Disse que passaria as
festas de fim de ano na Bahia e, assim que voltasse a São Paulo, por volta do dia 3 de
janeiro, me procuraria. Era um sujeito que sabia levar as pessoas na conversa, sempre
educado. Confiei.

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