® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

ser coletadas. Embora estivesse confiante de que a maioria das vacinas candidatas a
combater o coronavírus – administradas em três injeções com doses diferentes – seria
bem tolerada nos ratos, Claudia de repente estava preocupada com um dos construtos
baseados em uRNA. Ela disse que talvez a dose máxima de 100 microgramas fosse
“muito alta”. A equipe da virologista Annette Vogel já estava injetando o construto em
camundongos na BioNTech para testar a presença de anticorpos e observara que os
roedores estavam perdendo peso, o que é uma clara indicação de intolerância.
“Realmente não estou confortável com isso”, confessou Claudia a Jan. “Vamos solicitar
uma alteração no planejamento.”


Pelo cronograma, os ratos receberiam uma dose às oito da manhã do dia seguinte,
então esse era um pedido pouco usual. Jan precisava agir rápido: assim que pôde,
mandou um e-mail para os organizadores do estudo toxicológico.


Às sete da manhã seguinte, o planejamento foi alterado e enviado de volta à BioNTech
para assinatura. Enquanto isso, Jan dirigia do hotel para uma antiga fazenda que tinha
sido convertida em instalação para testes em animais. Ele desinfetou as mãos, vestiu
roupas de proteção e se dirigiu para a sala em que os ratos numerados individualmente
eram pesados e tinham a temperatura medida. Mas, em um canto do celeiro,
funcionários injetavam a dose de 100 microgramas de uRNA, motivo da preocupação
de Claudia. “Os colaboradores estavam tão ansiosos para começar que já tinham dado
a substância a dois animais antes que a mensagem para abortar chegasse”, conta ela. Os
roedores foram excluídos do estudo oficial, mas Jan decidiu monitorá-los de todo
modo. Ele achou que talvez os dois fornecessem uma pista útil sobre a tolerância a essa
plataforma em doses altas.


Enquanto Claudia e Jan trabalhavam no estudo toxicológico do Projeto


Lightspeed, outros profissionais enfrentavam o desafio de lançar o ensaio do tipo
“primeiro em humanos” mais rápido da história da BioNTech.


A empresa tinha bastante experiência na administração de medicamentos de mRNA
em pacientes com câncer e já havia realizado ensaios clínicos com mais de quatrocentas
pessoas ao longo dos anos, em vários países. Contudo, esses estudos progrediam
devagar. Hospitais do mundo todo eram contratados para identificar pessoas em um

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