® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

de apenas 21 dias e testar as respostas imunológicas sete dias após a segunda dose, em
vez dos catorze dias. No total, isso eliminaria duas semanas do processo.


Esse tempo extra faria mais do que contribuir para o lançamento do ensaio de fase 3 no
prazo. Meses depois, também garantiria que as pessoas vacinadas no mundo real
recebessem a segunda dose mais cedo – após 21 dias, e não 28 – e, desse modo,
estivessem totalmente protegidas mais rápido.


Depois de analisar os dados, as autoridades concordaram com ambos os conceitos, o
que gerou uma redução significativa na duração do estudo “primeiro em humanos”.


A BioNTech compartilhou com a Pfizer o planejamento do ensaio clínico, de modo que
a empresa norte-americana executasse um processo similar nos Estados Unidos. O
ensaio repetido não apenas serviria para apaziguar a Food and Drug Administration
(FDA), a agência reguladora norte-americana, que preferia que os desenvolvedores de
medicamentos executassem uma versão nacional desses estudos, mas também, com
sorte, confirmaria os dados coletados em Mannheim e em outro local em Berlim.


Após três semanas de lockdown, as informações divulgadas pela agência que monitora a
saúde pública na Alemanha, o Instituto Robert Koch, mostraram que o pior cenário que
Uğur imaginara em janeiro – de disseminação rápida e incontrolável do Sars-CoV- 2 –
não tinha se concretizado. Na verdade, as medidas básicas de contenção estavam
controlando o vírus, o que dava à BioNTech certa folga para respirar. Özlem e Uğur
viveram no limite durante três meses. Naquele momento, estavam mais confiantes de
que, com o estudo toxicológico acelerado e o estudo “primeiro em humanos” já
preparado, talvez a ciência se adiantasse a esse patógeno. “Eu sabia que tínhamos uma
chance. A gente estava no jogo”, diz Uğur.


De todo modo, a equipe do Projeto Lightspeed precisava reduzir a complexidade da
empreitada – e rápido. A maioria dos fabricantes selecionou uma única candidata à
vacina ideal para levar à etapa clínica. A Moderna – empresa norte-americana de
biotecnologia – fez isso em 16 de março de 2020, quando administrou ao primeiro
paciente sua vacina de mRNA, desenvolvida para expressar a proteína Spike completa
que se projeta do coronavírus. Cientistas da Universidade de Oxford, que mais tarde se
associaram à AstraZeneca – grupo farmacêutico anglo-sueco –, também optaram por
avaliar um único construto de vetor viral, em uma espécie de “tudo ou nada”.


Era impossível testar em seres humanos doses crescentes dos vinte construtos da
BioNTech, pois cada um tinha um código genético diferente para a proteína Spike ou
era baseado em uma plataforma de mRNA específica – e, ao mesmo tempo, cumprir

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