® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Oliveira era o empresário por trás do sucesso estrondoso de Marília Mendonça – ela,
que chegava a receber 800 mil reais por um único show. Mas ele é mais do que isso. Em
um ano bom, o faturamento de sua empresa – com shows, execuções de músicas em
plataformas de streaming e cachês de publicidade – chega perto de 1 bilhão de reais.
Seus quase trinta clientes, a maioria sertanejos, são os artistas mais executados no
YouTube e no Spotify no Brasil, as plataformas que indicam a popularidade dos
artistas. Ele é empresário de Henrique e Juliano (10,8 bilhões de execuções no
YouTube), Maiara e Maraisa (5,2 bilhões), e Diego e Victor Hugo (cuja canção Facas foi
a segunda mais tocada no Spotify do Brasil no ano passado).


Na música sertaneja, um mundo dominado por homens, Oliveira tornou-se o primeiro
empresário a apostar em mulheres cantoras e compositoras. Marília Mendonça, a joia
de seu portfólio, soma 15,1 bilhões de execuções no YouTube, desempenho que a
coloca entre as artistas mais assistidas do mundo, à frente de fenômenos planetários
como a norte-americana Beyoncé. (Fora do universo da música sertaneja, no Brasil,
esses são números inatingíveis. Anitta, a estrela mais reluzente do funk, tem 5,8 bilhões
de execuções no YouTube. Ivete Sangalo, a popularíssima musa do axé, tem 900 mil.)
Oliveira ergueu seu império sem ter curso superior, sem saber cantar, sem conexões
com o mercado de São Paulo e do Rio de Janeiro, e com aversão aos holofotes e à fama.


Nascido na zona rural de Americano do Brasil, município de 6 mil habitantes a


100 km de Goiânia, Wander Divino de Oliveira vem de uma família modesta. Seus pais
tiveram seis filhos e os nomes de todos os homens começam com W – Wagner,
Wanderlan, Wander e Wilton. Aos 5 anos, Oliveira já ajudava a ensacar milho e feijão
produzidos na roça da família. “Meus pais tinham a terrinha deles, mas não eram ricos.
Eu nunca passei fome, mas a vida era dura”, recorda. Aos 8, ele passou a acordar às
quatro da manhã porque, antes de ir para a escola, precisava fazer a ordenha das vacas.
A escola ficava a 8 km de sua casa. No começo, ia no lombo de um cavalo. Depois,
passou a fazer o trajeto de bicicleta.


Desde o início, Oliveira detestava a vida rural. Aos 15 anos, ao lado de irmãos mais
velhos, mudou-se para Goiânia, onde começou a cursar eletrotécnica. Enquanto
estudava, chegou a trabalhar na antiga Centrais Elétricas de Goiás. Numa ocasião, a
escola promoveu uma viagem para os alunos conhecerem fábricas de lâmpadas e
disjuntores em São Paulo, mas apenas o percurso de ônibus seria gratuito. A

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