® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

hospedagem e a comida correriam por conta dos alunos. Sem dinheiro, ele e um colega
organizaram dois shows para arrecadar recursos. Contrataram dois cantores sertanejos
e fizeram uma festa no ginásio do colégio e outra numa casa de eventos. O lucro pagou
hotel e alimentação de diversos alunos – e ainda sobrou dinheiro. Tem coisa aí, ele
pensou.


Oliveira conhecia música sertaneja. Na roça de seus pais, os peões compravam revistas
com partituras de músicas de duplas famosas, como Pena Branca e Xavantinho,
Milionário e José Rico e Chrystian e Ralf. Oliveira sabia cantar todos os hits. Na
adolescência, já em Goiânia, chegou a fazer um curso de canto para se enturmar e,
quem sabe, descobrir um ganha-pão. Não rolou uma coisa nem outra. “A professora
falou que não nasci para aquilo”, diz. Errada ela não estava. Oliveira é tímido, sua voz
é levemente rouca e, quando fala, em ritmo acelerado, come as sílabas.


Com seu gosto pela música, Oliveira começou a organizar festas sertanejas em bares e
casas de evento. Era o começo dos anos 1990 e ele tinha 20 e poucos anos. Em
sociedade com um colega, Paulino Rezende, o mesmo que se candidataria a vereador
pelo PDT alguns anos depois, abriu uma modesta casa de shows. Chamava-se Circos
Cowboy porque, por falta de dinheiro para erguer um telhado, ficava debaixo de uma
tenda. A aposta, porém, não era faturar com a música: era bebida alcoólica. Deu certo.
Pouco tempo depois, abriram outra casa, a Pirâmide Cowboy, agora com três tendas.
Não cobravam ingressos, ou cobravam ingressos irrisórios, e viviam da venda de
cerveja. A Pirâmide Cowboy cresceu e chegou a ter uma unidade em Brasília.


Em meados da década de 1990, Oliveira percebeu uma mudança. Os artistas de axé da
Bahia, como Netinho e É o Tchan, estavam passando a cobrar uma porcentagem da
bilheteria por seus shows, e não mais um cachê fixo desvinculado da lotação do
espetáculo. A dupla sertaneja Bruno e Marrone, que estava começando a carreira, por
exemplo, ainda operava no esquema antigo. Cobrava o equivalente a apenas 200 reais
por show, quer o espetáculo atraísse dez pessoas ou mil. No começo, os baianos
começaram pedindo 20% da bilheteria. Oliveira deu-se conta de que, com essa fórmula,
era possível ganhar como dono de casa de shows, mas também havia oportunidade
para faturar alto como empresário de artistas. Ele vinha conseguindo se manter com a
Pirâmide Cowboy, mas de novo pensou: tem coisa aí.


Vislumbrando um bom negócio, ele e seu sócio Paulino Rezende se ofereceram para
representar Bruno e Marrone. Levaram um “não, muito obrigado”, pois a dupla já
tinha um agente. Então, resolveram fazer a mesma proposta para Marcos e Fernando,
uma outra dupla sertaneja de Goiânia que dava então seus primeiros passos e vinha
atraindo bom público na Pirâmide Cowboy. Marcos e Fernando toparam e, no começo
de 1999, o contrato estava assinado. Oliveira ficou com a missão de escolher o

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