Ana Maria - Edição 1188 (2019-07-25)

(Antfer) #1
anamaria.uol.com.br

| Sinta & liga |


WAL REIS
é jornalista, profissional
de comunicação
corporativa e escreve
sobre comportamento^
e coisas da vida.

S


abe aquela história de que para
um bom entendedor, meia
palavra basta? Com a ausência
funciona mais ou menos do mesmo
jeito. É difícil aceitar, mas na quarta ou
quinta ocorrência, quando tentativas de
justificar o “não estar” vão ficando cada
vez menos verossímeis, a gente percebe
um caminho sem volta ali, algum
parafuso mal apertado que deixou a
cadeira capenga. Só não está quem não
quer estar. Principalmente no mundo
conectado de hoje, no qual o outro está
ao alcance de um teclado de celular.
Não há nada que respalde a falta de
comunicação ou o não comparecimento
(nem que seja eletrônico), a não ser
o desinteresse em estar presente. E,
para evitar palavrões, vou me abster
de comentar aqui justificativas como “a
bateria acabou”. Quem deixa espaços
conta uma história inteira, com começo,
meio e (isso dói) fim. Na maioria das
vezes, não é exatamente a narrativa que
gostaríamos de ouvir. Mas é a que vale,
é onde mora a realidade que não é a
perfeita. E vale mais do que a história
FOTO: GETTY IMAGEScontada para desculpar a omissão, ARQUIVO PESSOAL

O tempo
também não
cura. Ele
só promove
o afastamento
da ausência
que arde
em carne viva
para deixar
a cicatriz
do que ‘essa
ausência tua
me causou’

na tentativa vã de explicar o que, por
si só, já ficou mais do que explicado.
Acontece que esse esclarecimento
chega tão bonito, com palavras tão
doces e que se encaixam direitinho na
métrica do que queremos ouvir para
aquietar o coração, que optamos por

não pensar muito e ligamos o piloto
automático do “querer confiar”. Depois
de dez minutos de cara feia, estamos
conjeturando que a bateria pode
mesmo ter acabado. E a gente se
apega a essas explanações ocas como
quem se agarra a uma boia no mar
revolto, tentando manter a cabeça fora
da água, fazendo malabarismo para
acreditar que o vácuo foi um acidente
de percurso e não vai se repetir. Mas
repete. Porque palavra bonita é que
nem Band-Aid: esconde a ferida, mas
não cura. O tempo também não cura.
Ele só promove o afastamento da
ausência que arde em carne viva para
deixar a cicatriz do que ”essa ausência
tua me causou” (*).
* EU SEI QUE VOU TE AMAR, VINÍCIUS DE MORAES

Envie suas perguntas para Thiago Vieira pelo e-mail [email protected] suas perguntas para Wal Reis pelo e-mail [email protected]

Não


procure


explicação


para a


AUSÊNCIA.


ELA


já é a


explicação

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