“A conclusão é que a vacina é excelente
contra as variantes Alfa e Delta, mas
contra a [transmissão da] Ômicron ela
não é suficiente”, afirmou.
As vacinas continuam protegendo
contra Covid severa; mas, mesmo com
a quarta dose, não conseguem parar o
vírus. Um dia após a divulgação dos
dados de Israel, a European Medicines
Agency anunciou que não irá liberar a
quarta dose – no Brasil, o Ministério
da Saúde também a descartou. Tirando
certos públicos, como pessoas imuno-
deprimidas ou idosos que tomaram
duas doses de Coronavac e uma Pfizer
(e estariam mais bem protegidos com
mais uma dose de Pfizer (4)), o ciclo das
vacinas atuais parece estar no fim. Daqui
para a frente, só com novos imunizantes.
A Pfizer e a Moderna já criaram
vacinas adaptadas para a Ômicron e
começaram seus respectivos estudos
clínicos – o CEO da Pfizer, Albert
Bourla, afirmou que seu imunizante po-
de estar pronto em março. Na prática,
vai demorar bem mais até chegar ao seu
braço. Se a vacina se mostrar segura
e eficaz, a empresa poderá solicitar a
aprovação aos órgãos regulatórios e co-
meçar a distribuí-la. Mas, nos primeiros
meses, certamente haverá uma disputa
pelo novo imunizante – e as nações ri-
cas devem acabar levando a melhor na
compra das doses. Nem pense em pular
A evolução da imunidade
As mutações do coronavírus come-
çaram a se tornar um problema com
a variante Delta, cuja transmissão as
vacinas não conseguiam mais impedir.
A solução foi partir para uma terceira
dose – com isso, elas voltaram a oferecer
mais de 90% de eficácia contra infecção.
Ótimo. Pena que a Ômicron acabou com
isso. Contra ela, as três doses oferecem
bem menos proteção contra o contágio:
67,3%. Foi o que constatou o Centers
for Disease Control (CDC) americano
em um estudo com 70 mil pessoas (1).
67% é um número até razoável (e, vale
lembrar, a terceira dose da vacina reduz
em 90% o risco de Covid grave (2)), mas
não será suficiente para frear a circula-
ção do coronavírus – inclusive porque a
proteção contra contágio diminui com
o tempo, conforme os níveis de anti-
corpos no sangue vão caindo, e porque
esses dois estudos só consideraram as
vacinas de RNA (Pfizer e Moderna, que
têm maior eficácia e são as mais usadas
nos EUA, mas não no resto do mundo).
Então veio a ideia de uma quarta
dose. Israel saiu na frente: em dezem-
bro, começou a aplicá-la em todas as
pessoas que tivessem mais de 60 anos,
algum comprometimento do sistema
imunológico ou fossem profissionais
de saúde. Não deu o resultado espera-
do. Uma análise feita no Sheba Medi-
cal Center, em Tel Aviv, revelou que a
quarta dose da vacina Pfizer eleva em
5 vezes o nível de anticorpos. É menos
do que a terceira (3), que gera um au-
mento de 8 a 25 vezes (dependendo de
quais vacinas a pessoa tomou antes).
Mas o maior problema é que ela não
consegue impedir o contágio. “Nós
vimos muitos infectados pela Ômi-
cron entre os vacinados com a quarta
dose”, declarou a epidemiologista Gili
Regev-Yochay, coordenadora do estudo.
67
É a proteção contra
infecção pela Ômi-
cron após tomar três
doses da vacina.
Isso não é o sufici-
ente para frear a
pandemia – e levanta
a possibilidade de
uma quarta dose.
Pfizer e Moderna já
desenvolveram vacinas
adaptadas para a variante
Ômicron. Elas poderão ser
usadas após três doses do
imunizante atual. Mas, no
primeiro teste, a vacina da
Moderna teve resultados
decepcionantes.
(3) (4) Immunogenicity of heterologous BNT162b2 booster in fully vaccinated individuals with CoronaVac against Safety and immunogenicity of seven COVID-19 vaccines as a third dose (booster). APS Munro e outros, 2021.
SARS-CoV-2 variants Delta and Omicron: the Dominican Republic Experience. A Iwasaki e outros, 2021.
%
fevereiro 2022 super 23
SI_436_ofuturodacovid.indd 23 2/10/22 23:47