Super Interessante (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1
a terceira dose atual, caso você ainda
não tenha tomado, para ir direto à nova
versão. Isso deixaria você desprotegido
contra a Ômicron por um longo período.
A Pfizer vai testar seu novo imuni-
zante em 1.420 pessoas, incluindo gente
que já tomou duas ou três doses da
vacina atual. Isso permitirá avaliar a
segurança da quarta dose. Se ela causar
efeitos colaterais novos ou piores, o es-
tudo vai mostrar. Mas é pouco provável.
“Efeitos adversos de maior gravidade
existem, sim, mas são muito pouco
frequentes, mesmo com a aplicação
repetida de doses”, diz o imunologista
Oscar Bruna-Romero, da UFSC. A razão
é simples. Se a vacina for causar um
efeito colateral mais sério em alguém,
muito provavelmente já terá feito isso
nas três primeiras doses.
Os estudos também irão verificar se
as novas vacinas são afetadas por um
fenômeno intrigante, inclusive no nome:
o “pecado original antigênico”. Nesse
processo, que foi descrito pela primeira
vez na década de 1960 mas até hoje não
é plenamente compreendido, o sistema
imunológico fica “travado” na primeira
versão de um determinado vírus. De-
pois, quando a pessoa é vacinada contra
uma nova variante, o organismo não
reage como esperado. Ele faz anticorpos
contra o vírus antigo, ignorando o novo.
Isso poderia comprometer a eficácia das
vacinas contra a Ômicron.
Com alguns vírus, como o influenza
(da gripe), o pecado original antigênico
não existe: desenvolvemos novas vaci-
nas contra ele todos os anos, e o corpo
responde corretamente. Mas esse fenô-
meno se manifesta com o DENV, que
causa a dengue (5) (e acabou reduzindo
bastante a eficácia da vacina contra essa
doença). Com o Sars-CoV-2, a ciência
vai descobrir agora. Mas o primeiro
sinal não foi bom.
Um estudo do National Institutes of
Health, do governo americano, com-
parou a nova vacina da Moderna (que
se chama mRNA-Omicron) com sua
versão “clássica”, a mRNA-1273, em oi-
to macacos (6). Todos haviam recebido
duas doses da vacina mRNA-1273 no
ano passado. No estudo, metade de-
les tomou uma dose da nova mRNA-
Omicron, e a outra metade recebeu
um reforço com a vacina antiga mes-
mo. Duas semanas depois, os cientis-
tas checaram os níveis de anticorpos


  1. A vAcinA trAdicionAl
    Ela contém Sars-CoV-2 inativado (no
    caso da Coronavac), um vírus de
    chimpanzé acoplado à proteína spike
    (na vacina da AstraZeneca) ou RNA
    mensageiro contendo instruções para
    que o próprio organismo fabrique a
    spike (na vacina Pfizer). Nos três casos,
    o objetivo é o mesmo: expor o seu
    sistema imunológico a essa proteína.
    2. A imunidAde humorAl
    O corpo reconhece a spike e produz
    células B e T e anticorpos. A maioria dos
    anticorpos é do tipo IgG (imunoglobulina
    G), altamente eficiente. Eles circulam no
    sangue e nos fluidos do corpo (por isso,
    essa é a chamada imunidade humoral).
    Somem após alguns meses – mas as cé-
    lulas B guardam sua “memória”, e podem
    voltar a fabricá-los caso necessário.

  2. o problemA
    Os anticorpos IgG evitam que o Sars-
    CoV-2 colonize o pulmão e provoque
    Covid severa, mas não são bons para
    evitar que você seja infectado pela
    variante Ômicron. A doença não
    progride, mas o vírus consegue se ins-
    talar e se multiplicar nas vias aéreas
    superiores – podendo inclusive ser
    transmitido para outras pessoas.

  3. A vAcinA nAsAl
    Ela é feita com vetor viral (como o
    da vacina AstraZeneca), só que na
    forma de spray. Atua sobre o
    “sistema imunológico mucosal”,
    uma divisão do principal – que
    reage produzindo anticorpos do
    tipo IgA (imunoglobulina A). Eles
    ficam nas mucosas, e impedem
    que o vírus penetre no organismo.

  4. o resultAdo
    As vacinas nasais impedem o contágio
    e a transmissão do vírus. Elas podem
    ser decisivas para conter a pandemia.
    Duas já estão em testes clínicos. Mas
    elas não são fáceis de desenvolver:
    até hoje, apenas uma vacina nasal foi
    aprovada para uso em humanos (a
    FluMist, que combate a gripe comum
    e é usada nos EUA desde 2003).


Esses são os dois tipos de resposta imunológica. As
vacinas atuais estimulam o primeiro; mas, para frear
o coronavírus, é preciso ativar também o segundo.

Humoral e mucosal


(5) 2011. Immunity to dengue virus: a tale of original antigenic sin and tropical cytokine storms. A L Rothman,
24 super fevereiro 2022 neutralizing antibodies and protection against Omicron. (6) mRNA-1273 or mRNA-Omicron boost in vaccinated macaques elicits comparable B cell expansion, M Gagne e outros, 2022.

Células B
(fabricam os
anticorpos)

Vírus Células T

Células T
(matam células
infectadas)

Anticorpos

Mucosa Anticorpos

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