fórmula porque prolonga ação do nirma-
trelvir). Ou seja: a droga pode começar
funcionando bem, mas eventualmente
levar um drible do vírus.
Então novas variantes vão continuar
aparecendo, e seremos acossados por
elas o resto das nossas vidas? Não
necessariamente. “A taxa de mutação
depende diretamente do tamanho da
população viral, ou seja, o número de
pessoas infectadas”, diz a geneticista Ca-
rolina Voloch, da UFRJ. Se a pandemia
for contida (com vacinas, remédios e
máscaras), as mutações vão desacelerar.
O coronavírus tem uma carta na
manga contra isso. Um estudo da Im-
perial College London revelou que a
Ômicron é a primeira variante capaz
de se conectar aos receptores celulares
ACE2 dos frangos^10. Isso não signifi-
ca que ela de fato consiga contaminar
esses animais (só testando na prática
para saber). A questão é que existem 23
bilhões de frangos no mundo. Se o vírus
começar a infectá-los, as fazendas pode-
rão se tornar megausinas de variantes.
Mas a humanidade já prepara a res-
posta: uma vacina universal, eficaz con-
tra todos os coronavírus. Cientistas de
quatro universidades americanas e do
Exército dos EUA estão tentando criá-la.
Um dos protótipos, desenvolvido pelo
Instituto de Tecnologia da Califórnia, é
feito com uma nanopartícula que carre-
ga fragmentos de oito coronavírus. Foi
testada em ratos – e gerou anticorpos
até contra variantes que nem estavam
presentes na vacina^11. Essa “imunidade
cruzada” talvez possa servir de defesa
preventiva contra futuras mutações do
vírus. Mas a vacina universal ainda deve
demorar alguns anos.
Não vamos varrer o coronavírus do
mapa tão cedo. Mas podemos controlá-
-lo. “O mais esperado é ter ondas epidê-
micas esporádicas, como acontece com
o influenza”, afirma a epidemiologista
Maria da Glória Teixeira, da UFBA. “Há
quem diga que a gripe espanhola não
acabou em 1919”, acrescenta. Ela pode
estar conosco até hoje; mas nem perce-
bemos, pois nos tornamos parcialmente
imunes. O conflito entre humanos e
vírus é um processo eterno, nunca irá
terminar – porque ele não é só uma
guerra, feita de doenças e morte. Tam-
bém é a força motriz de um processo
essencial, sem o qual a humanidade
sequer existiria: a evolução genética. S
O Sars-CoV-2 é capaz de infec-
tar várias espécies de animais.
Mas a variante Ômicron foi a
primeira que conseguiu se co-
nectar aos receptores celulares
dos frangos. Se ela contaminar
esses animais na vida real, as
fazendas poderão se tornar
grandes usinas de variantes.
(^11) Mosaic nanoparticles elicit cross-reactive immune responses to
zoonotic coronaviruses in mice. P Bjorkman e outros, 2021.
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