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dos EUA, quando marines encontraram
essa lista num complexo de cavernas no
Afeganistão, em 2002. Naquele mesmo
ano, outra fonte de inteligência reportou
a presença de membros da Al Qaeda no
norte do Iraque, onde estavam testando
vários patógenos em cães e bodes. “Que
eu saiba, eles nunca obtiveram a capa-
cidade de usar [armas biológicas] num
contexto de batalha”, afirma Myers. “Eu
acho que existem informações, prova-
velmente confidenciais, que mostrariam
a você que não é o caso – mas eu não
tenho conhecimento delas, ou não pos-
so falar sobre elas.”
Mas, mesmo se a Al Qaeda tiver
desistido, outros grupos parecem ter
pegado o bastão do bioterrorismo. Em
2014, um velho laptop Dell encontrado
num esconderijo do ISIS no norte da
Síria – o “laptop do apocalipse”, como
foi apelidado pela imprensa americana –
continha instruções detalhadas de como
produzir e espalhar peste bubônica por
meio de animais contaminados.
Para um aspirante a bioterrorista, diz
Myers, as fazendas são um “alvo fácil”.
Elas têm pouca segurança, e não é es-
pecialmente difícil produzir e espalhar
patógenos eficazes. A febre aftosa, que
tem esse nome porque causa grandes
aftas (bolhas) nas línguas, bocas e patas
de bois, vacas, porcos e outros animais,
é tão contagiosa que a descoberta de um
único caso geralmente requer o sacri-
fício de rebanhos inteiros para evitar
que a doença se espalhe.
O setor agrícola também é altamen-
te concentrado: três estados fornecem
75% de todos os legumes e verduras dos
EUA, e 2% dos rebanhos bovinos pro-
duzem 75% da carne. E, acima de tudo,
tanto as plantas quanto os animais são
geneticamente uniformes (nos EUA, 25%
Havia 16 patógenos na lista, es-
critos em garranchos espalhados pela
página. Ao lado de cada um deles es-
tava o período de incubação, o meio de
transmissão e a mortalidade esperada. A
peste pneumônica, que acontece quando
a bactéria Y. pestis infecta os pulmões,
estava no topo. Se não for tratada, é letal
em 100% dos casos. Abaixo havia alguns
nomes de epidemias do passado, como
cólera e antraz. Mas o que surpreendeu o
general Richard B. Myers foi outra coisa:
a maioria dos itens da lista não afetava
humanos. Ferrugem do trigo, brusone
do arroz, febre aftosa, peste suína. Eram
armas biológicas para atacar o sistema
global de produção de alimentos.
Myers era o diretor do Joint Chiefs of
Staff, o conselho militar mais poderoso
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