O NBAF irá estudar
medidas contra ata-
ques bioterroristas
- como os planeja-
dos pela Al Qaeda.
n
de todo o gado Holstein descende de
apenas cinco touros – sendo que apenas
um deles, o Arlinda Chief, é o pai de
quase 14%). As plantações e os reba-
nhos são monoculturas, extremamente
vulneráveis a doenças. Um prato cheio
para pestes e patógenos. Com ou sem
a ação de terroristas, o mundo está tão
sujeito a uma pandemia agrícola quan-
to à Covid-19 – e possivelmente menos
preparado para enfrentá-la.
Para diagnosticar doenças mortais
e desenvolver tratamentos e vacinas,
os cientistas precisam trabalhar com
os patógenos. Mas muito poucos la-
boratórios são seguros o suficiente.
O único lugar onde pesquisadores dos
EUA podem estudar a febre aftosa, por
exemplo, é o Plum Island Animal Di-
sease Center, construído numa ilhota
a 12 km da costa de Connecticut. Ele
tem a vantagem de possuir uma barreira
sanitária natural – o mar.
Mas foi inaugurado em 1954, e seus
laboratórios estão desatualizados. Não
têm a certificação BSL-4 (Nível de Bios-
segurança 4), o patamar mais alto de
segurança. Os laboratórios desse nível,
como explica o Centers for Disease
Control (CDC) americano, são os únicos
habilitados a trabalhar com micróbios
“perigosos e exóticos, com alto risco de
infecções transmitidas pelo ar”. Cos-
tumam ser vírus capazes de infectar
animais e humanos, e que não têm cura.
O ebola é um deles. Os vírus Nipah e
Hendra, que emergiram recentemente,
também. No mundo, existem apenas
três laboratórios BSL-4 equipados para
trabalhar com animais grandes, como
bois. Um fica no Canadá, o outro na
Austrália e o terceiro na Alemanha.
Isso irá mudar neste ano, com a
inauguração do National Bio and
Agro-Defense Facility (NBAF), um
laboratório de US$ 1,25 bilhão cons-
truído pelo governo dos EUA na cidade
de Manhattan, Kansas, bem no coração
agrícola do país. O NBAF segue a ten-
dência moderna no controle de doenças
infecciosas: em vez de empregar uma
barreira geográfica para garantir sua se-
gurança, como em Plum Island, ele usará
medidas tecnológicas extremas. Dentro
do NBAF, cercados por plantações de
milho e rebanhos de gado, cientistas
trabalharão para proteger a produção
de alimentos de uma eventual peste.
Nós visitamos a construção do NBAF,
que ocupa uma área de 50 acres, du-
rante um dia úmido na primavera de
- O lugar foi escolhido após uma
seleção que durou três anos, em parte
por causa da expertise local: a região
já abriga o Biosecurity Research Insti-
tute, um laboratório BSL-3 inaugurado
em 2007. O senador americano Tom
Daschle chamou a área de “Vale do Silí-
cio da biodefesa”. Mas a escolha do local
recebeu críticas, e dá para entender o
motivo. Um laboratório projetado para
trabalhar com as doenças animais mais
devastadoras que existem, num estado
onde há dez vezes mais gado do que
gente. Se a febre aftosa vazasse dele,
infectaria facilmente os rebanhos dos
estados vizinhos, que reúnem quase
metade de todo o gado do país, e poderia
causar até US$ 50 bilhões em danos.
E tem o clima local também: Kansas é
conhecido pelos tornados.
Segundo um estudo encomendado
pela National Academy of Sciences, a
probabilidade de um patógeno escapar
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