70%
do NBAF durante a vida útil do comple-
xo, 50 anos, é de impressionantes 70%.
Em resposta a essa preocupação, o De-
partment of Homeland Security, divisão
do governo responsável pela construção
do laboratório, reforçou as estruturas
para torná-las capazes de resistir a um
tornado da Categoria 5, a mais intensa
de todas – e aí encomendou outra ava-
liação, que estimou em 0,1% o risco de
vazamento do laboratório.
A mudança é visível nas estrutu-
ras do NBAF, que têm uma enorme
quantidade de concreto. “Foram uns
45 mil metros cúbicos [equivalente a 90
piscinas olímpicas], aplicados ao longo
de dois anos e meio”, diz Ron Trewyn,
um ex-oncologista que dirigiu a cam-
panha para construir o laboratório. E
é um concreto especial, que passa por
uma reação química e se expande de-
pois de secar, impedindo o surgimento
de rachaduras.
O NBAF também possui janelas resis-
tentes a impactos e explosões, revestidas
por uma malha de ferro que atende às
normas da Nuclear Regulatory Com-
mission [agência que fiscaliza as usinas
nucleares nos EUA]. “Mas, no caso de um
tornado, o problema são as pressões”,
diz o diretor técnico do projeto, Eugene
Cole. As salas de um complexo BSL-
4 são mantidas em pressão negativa,
menor que a do ambiente externo. Isso
garante que, se houver um vazamento,
o ar será sugado para dentro do prédio.
Mas se um tornado causar uma queda
repentina na pressão externa do ar, es-
se fluxo pode se inverter [com escape de
ar para o meio externo]. Segundo Cole, a
construção do NBAF levou em conside-
ração essa possibilidade – e o laboratório
terá sistemas barométricos capazes de
se autorrecalibrar rapidamente.
Ele compara um BSL-4 a um bolo
com várias camadas. No andar mais
baixo fica o “gerenciador de efluentes”
[sistema de tratamento de resíduos]. De-
pois vem o laboratório propriamente
dito, onde os cientistas trabalham.
Acima há um andar só com filtros,
outro com bombas e equipamentos
mecânicos, e uma “cobertura” com
uma saída de ventilação [que libera ar
tratado]. Todos os canos, dutos e cabos
ficam em compartimentos isolados –
mas também podem ser acessados
para testes e consertos preventivos.
O prédio é gerenciado por um siste-
ma automático de computadores, que
praticamente dizem aos funcionários
da manutenção o que eles devem fazer.
O NBAF é maior e melhor que seu
vizinho, o Biosecurity Research Insti-
tute. Um dos avanços está no descarte
de carcaças dos animais. O laboratório
mais antigo tem um sistema que dissol-
ve os bichos mortos numa sopa alcalina.
Os ossos e dentes viram um pó de cál-
cio, que é separado e incinerado. Fora
isso, sobra apenas um líquido gosmento,
que é estéril o suficiente para jogar no
sistema municipal de esgoto. O único
problema é que esse líquido ainda está
tão cheio de material orgânico que pode
facilmente sobrecarregar as estações de
tratamento da cidade. Por isso, antes
de cada descarga, o laboratório “precisa
ligar para a empresa municipal de água
e perguntar se eles estão prontos para
receber aquela meleca”, diz Cole. Ela
geralmente é liberada durante a ma-
drugada – quando os corpos de animais
liquefeitos descem pelos esgotos da ci-
dade enquanto os moradores dormem
tranquilos, sem saber de nada.
No novo laboratório, diz Cole, “as
carcaças não serão jogadas no ralo”,
pois o NBAF tem duas autoclaves.
“Basicamente, [cada autoclave] é uma
grande panela de pressão com um
mexedor”, diz ele. O líquido que sai
das autoclaves pode ser usado como
fertilizante. Mas, por cautela, será
é o risco
de um patóge-
no vazar do
laboratório
nos próximos
50 anos.
Instalações modernas,
localIzação polêmIca
NBAF irá estudar doenças que afetam
plantações e rebanhos – por isso,
está sendo construído no “Vale do
Silício” agrícola.
Nome: National Bio and Agro-
Defense Facility
Local: Manhattan, Kansas, cidade de
55 mil habitantes que faz parte do
“Kansas Animal Health Corridor”,
uma região que reúne empresas de
agrotecnologia.
Custo da obra: US$ 1,25 bilhão
Funcionários: 400
Quem irá operá-lo: USDA (o
ministério da Agricultura dos EUA)
Nível de segurança: BSL-4, o
mais alto que existe. É apto a
trabalhar com vírus que causam
doenças letais, incuráveis e
transmissíveis pelo ar.
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