Super Interessante (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1
um tiro no pé. O ataque
à exposição colocou nas
trincheiras, ao lado da
pintora, um grupo de
intelectuais e artistas in-
quietos, que rejeitavam a
tradição cultural no país,
que só queria saber de
mimetizar o que a Fran-
ça tinha de mais clássico.
Seus expoentes, loucos
por uma boa briga com
conservadores, eram os
poetas Mário de Andrade,
Oswald de Andrade (sem
parentesco) e Menotti Del
Picchia, além dos pinto-
res Di Cavalcanti e Tar-
sila do Amaral.
Na pauta desse grupo,
como explica a historia-
dora Lilia Schwarcz, em
seu livro Brasil: Uma bio-
grafia, estava a crítica à
importação automática
de movimentos e teo-
rias estrangeiras – como
se fazia com o parnasia-
nismo –, propondo em
troca a incorporação de
modelos nacionais ao que
houvesse de original no
mundo. “O intento era
renovar o ambiente ar-
tístico e cultural.”
Também era uma am-
bição desses intelectu-
ais ampliar o alcance de
suas propostas e críticas
ao status quo. Mas como?
A resposta podia caber
numa xícara.
Com a exceção de
Mário de Andrade, que
era de classe média, os
modernistas vinham de
famílias abastadas. Ain-
da assim, foi com os re-
cursos de gente (muito)
mais rica que ganharam
notoriedade numa São
Paulo ainda provinciana
nos costumes, mas que
tinha se transforma-
do, na segunda metade
do século 19, em uma
potência econômica.
Por improvável que
fosse, uma elite que fez

fortuna plantando ca-
fé topou a aventura do
modernismo. Mesmo que,
artisticamente, tivessem
um gosto tão antiquado
quanto o dos detratores
de Anita Malfatti, os
fazendeiros decidiram
pagar para ver São Pau-
lo na dianteira da cultu-
ra nacional, seguindo o
ritmo de sua industria-
lização vertiginosa e, as-
sim, competindo com o
protagonismo do Rio de
Janeiro, a capital do país.
Foi essa improvável
aliança entre jovens ico-
noclastas e seus podero-
sos mecenas que resul-
taria, cem anos atrás, no
evento que entrou para a
história como a Semana
de Arte Moderna. Ou a
Semana de 22, que, apesar
do nome, só teve apresen-
tações em três dias: se-
gunda, quarta e sexta; 13,
15 e 17 de fevereiro.

A família
que virou CEP
Naquele início de século
20, São Paulo se trans-
formou no eldorado de
quem procurava trabalho
e uma vida melhor. Seu
desenvolvimento atraía
imigrantes para os an-
daimes de arranha-céus,
para a reforma urbana, a
indústria e o comércio.
Tanto que a população
deu um salto. O censo de
1900 registrava 240 mil
habitantes na cidade; já
no de 1920, eram 579 mil


  • um aumento de 140%.
    Para efeito de compara-
    ção, no Rio de Janeiro, a
    expansão populacional
    naqueles mesmos 20
    anos tinha sido de 42%.
    De uma vila colonial
    na primeira metade do
    século anterior, São Paulo
    emergiu quando, com a
    decadência dos enge-
    nhos de cana-de-açúcar,


Conhecer a história
desse clã é deparar-se
com uma série de nomes
de logradouros bem co-
nhecidos da região cen-
tral da metrópole nos
dias de hoje – o próprio
Antônio Prado virou pra-
ça no distrito da Sé. Seu
avô foi o Barão de Iguape
(rua do bairro da Liberda-
de); sua mãe, Dona Veri-
diana (rua de Higienópo-
lis), comandou fazendas
e um salão cultural em
seu palacete no distrito
de Santa Cecília; já seu
pai, Martinho Prado (via
que liga a Rua Augusta

o Brasil passou a ter sua
economia lastreada na
exportação de café.
De cada quatro xícaras
bebidas no planeta, três
eram feitas com grãos
produzidos no país, espe-
cialmente nos arredores
de Campinas e Ribeirão
Preto, no Oeste Paulista.
Naquela época, a famí-
lia Prado tinha se tornado
a maior produtora de café
do mundo. E um de seus
membros teve papel deci-
sivo nas transformações
que levariam São Paulo
à fama de locomotiva do
Brasil: Antônio Prado. →

140
POR CENTO
foi o cres-
cimento da
população
de São Pau-
lo entre os
anos 1900
e 1920.

expoentes


da semana


no municipal


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