Super Interessante (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1
ao bairro do Bixiga), foi
quem multiplicou a for-
tuna da família ao subs-
tituir a cana-de-açúcar
em suas propriedades
pela cultura do café.
Primogênito desse
casal, Antônio Prado fez
mais do que todos seus
parentes. Conselheiro do
Império, senador, minis-
tro das Relações Públicas,
ele se tornaria o primeiro
prefeito de São Paulo em
1899 – os mandatários
anteriores eram chama-
dos de “intendentes”.
E resolveu aproveitar o
boom econômico do café
para deixar sua marca na
cidade. “Sob seu coman-
do, terá início uma cadeia
de reformas cujo objeti-
vo será adequar a urbe
oitocentista, em muitos
aspectos ainda recober-
ta pelo mofo colonial, aos
tempos de riqueza trazida
pelo ‘ouro verde’ [o ca fé]”,
define Roberto Pompeu
de Toledo, em A Capital
da Vertigem.
No mandato de An-
tônio, São Paulo ganhou
energia elétrica, pontes
estratégicas e o aterra-
mento de várzeas, que
emperravam o desloca-
mento em dias chuvosos.
O prefeito ainda mandou
construir a Avenida Tira-
dentes, e nela inaugurou
a Estação da Luz e a Pi-
nacoteca do Estado.
Traço herdado da mãe,
Veridiana, sua atenção
para a cultura também
era evidente. E desse
interesse surgiria o pal-
co da futura Semana de
Arte Moderna: o The-
atro Municipal de São
Paulo, fruto do encontro
entre Antônio Prado e
o arquiteto Ramos de
Azevedo. A inauguração
dessa “casa de ópera”, em
1911, foi tão concorrida
que provocou o primeiro

grande congestionamen-
to da história da cidade –
imobilizando, lado a lado,
automóveis e carruagens.

Em palco nobre
Um nome menos lembra-
do quando se fala da Se-
mana de 22 é o de Graça
Aranha, autor do roman-
ce Canaã. Uma injustiça.
Além de ter feito a pales-
tra inaugural do evento,
foi ele quem indicou o
caminho do dinheiro aos
intelectuais que queriam
fazer um festival grandio-
so para divulgar as artes
e teorias modernistas (a
ideia do evento partira
do pintor Di Cavalcan-
ti). Em bom português:
sem Graça Aranha, não
haveria a Semana. E, na
época, esse caminho dos
tijolos dourados levava à
porta do magnata Paulo
Prado, o filho do já ex-
-prefeito Antônio.
“Paulo Prado acolheu
cordialmente os moços
modernistas, impressio-
nou-os com sua figura de
rico inteligente e definiu
seu papel na empreitada.
Não entraria como o me-
cenas extravagante de um
salão de inconsequên-
cias”, apontou Marcos
Augusto Gonçalves, autor
de 1922 – A Semana que
Não Terminou. Isso sig-
nificava que o homem
da grana queria, sim,
algo revolucionário, que
projetasse São Paulo no
cenário artístico do país,
mas não tão radical que
afastasse seus pares – que
também iam tirar dinhei-
ro do bolso para o show-
-happening-exposição.
Cafeicultor como seu
pai, Paulo ainda investia
nos setores bancário, in-
dustrial e imobiliário, e
acreditava no “papel ci-
vilizador das elites”. Para
ele, deveria ficar claro a

1 glauber rocha,
diretor de Terra em
Transe, é o maior
expoente do chamado
Cinema Novo – cujas
principais inspirações
foram, nos temas, a
realidade brasileira,
e, na estrutura, o le-
gado do modernismo,
com uma ruptura
radical com a lingua-
gem linear e tradicio-
nal do cinema.

2 caetano veloso^
era o líder do Tro-
picalismo nos anos
1960, movimento que
foi a última grande
onda do modernismo.
Seguindo a cartilha de
Oswald de Andrade,
devorou tendências,
como o rock, a bossa
nova e o samba, para
lançar uma música
original – combinando
o erudito e o popular.

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herdeiros do


modernismo-raiz


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