Super Interessante (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1
Los Angeles. Com a aju-
da de Paul, a SLM entrou
na bolsa de valores, teve
mais de 140 funcionários
e US$ 300 milhões em
valor de mercado (US$
100 milhões a mais que
a Marvel).
Mas tudo foi por água
abaixo. No final de 2000,
as ações despencaram e
quase todos os funcio-
nários foram demitidos.
Mais tarde, descobriu-se
que Paul era um golpista,
que divulgava relatórios
falsos para inflar as ações
da SLM. Acabou fugindo
para o Brasil para escapar
dos processos, mas foi
preso pela Interpol.
Stan e alguns remanes-
centes da SLM, então, fun-
daram a POW! Entertain-
ment numa tentativa de
juntar os cacos. Fundada
em 2001, ela atirou para
todos os lados. Desenvol-
veu animações (Strippe-
rella, sobre uma stripper
que combate o crime),
cosméticos (uma colônia
do Stan Lee vendida a
US$ 25), reality shows e
mais uma série de proje-
tos que nunca decolaram


  • como um desenho em
    parceria com a Playboy. A
    POW! existe até hoje, mas
    nunca lançou um hit.


Sanguessugas
Os últimos anos de Stan
Lee foram conturbados.
Por um lado, ele se tor-
nou mais famoso do que
nunca com suas participa-
ções em filmes e séries da
Marvel (foram 60). E era o
centro das atenções quan-
do aparecia nos eventos
de estreia dos longas –
embora nunca ficasse
até o final para assisti-los.
Mas as aparências da
vida pública estavam
longe da verdade. Ingê-
nuo, Stan acabou cercado
de interesseiros. “Um por

morando do outro lado do país há 14),
ele já não apitava mais nas decisões da
editora, mas continuou a representar a
marca em eventos e entrevistas. Só que
as coisas logo se complicaram. No ano
seguinte, investimentos errados do che-
fão da Marvel, Ron Perelman, fizeram a
empresa entrar com um pedido de falên-
cia, com quase US$ 1 bilhão em dívidas.
Para sair da pindaíba, a companhia
fez um saldão dos direitos de seus per-
sonagens mais famosos para estúdios de
Hollywood – pagando pouco, pelo jeito,
eles topavam a ideia de pensar em filmes
com os heróis da Marvel. A companhia
precisou também renegociar contratos


  • como o de Lee, que ganhava US$ 1 mi-
    lhão para, bem... não fazer nada. O novo
    acordo oferecia US$ 250 mil anuais, mas
    Stan recusou. O valor não dava conta
    do estilo de vida que ele havia adquiri-
    do – Joan e a filha eram consumidoras
    compulsivas, o que sempre forçou Stan
    a continuar trabalhando.


Péssimos negócios
Stan e a Marvel chegaram a um acor-
do no final de 1998, mas o desgaste o
fez considerar novos voos. Ele criou a
empresa Stan Lee Media (SLM) para
desenvolver produtos para cinema, TV
e internet (ainda uma novidade).
O parceiro de Stan nessa emprei-
tada foi Peter Paul, um advogado que
conheceu em eventos beneficentes em

um, indivíduos de moral
instável foram entrando
na vida dele, prometendo
riqueza, desde que ele não
fizesse muitas perguntas a
respeito de como isso se-
ria feito”, escreve Abraham
Riesman na biografia
Invencível: a ascensão e a
queda de Stan Lee, lançada
em 2021.
Um desses indivídu-
os foi Mark Anderson,
um segurança que virou
amigo de Lee e sugeriu
que o escritor poderia
lucrar com suas apari-
ções públicas. Junto a
ele, Lee passou a cobrar
centenas de dólares por
autógrafo – e milhares
por participações em
convenções (mais tarde,
descobriu-se que An-
derson chegou a roubar
objetos pessoais de Lee).
Mas talvez o relaciona-
mento mais desgastante
de Stan tenha sido com
sua filha. JC Lee sempre
gerou preocupação: tinha
problemas com álcool e
vivia às turras com os
pais – geralmente, para
pedir mais dinheiro. No
64º aniversário de JC,
insatisfeita com um pre-
sente que ganhou de Lee
(um carro), agarrou o pai
pelo pescoço.
Stan morreria no
dia 12 de novembro de
2018, aos 95 anos, após
uma parada cardíaca.
No final, sua vida foi
tão imperfeita quanto a
dos personagens que o
consagraram – e quan-
to a de cada um de nós.
Com uma diferença: Stan
foi mestre em cultivar a
própria imagem. A p0n-
to de suas aparições-re-
lâmpago na tela, em suas
últimas décadas de vida,
causarem tanto fascínio
quanto os heróis da mito-
logia contemporânea que
deu ao mundo. S

Stan con-
tinuou a
frequentar
conven-
ções de
quadrinhos
mesmo
com a
saúde
debilitada:
precisava
do dinheiro
para man-
ter o estilo
de vida da
família.

fevereiro 2022 super 57

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