Foto: Leighann Blackwood/Unsplash Montagem: Arte/Superinteressante
versões alternativas (não-fascistas) da
Alemanha e da Itália. Isso poderia levar
a um conflito continental, depois global.
Seria uma Segunda Guerra mais co-
mo a Primeira. Tão letal quanto a da
vida real, só que mais impopular. É mais
fácil explicar por que lutar contra dita-
dores caricatos e ideologias exóticas que
contra líderes tidos por normais, como
foi com os monarcas da Alemanha e
da Áustria na Primeira Guerra.
Na vida real, 80% das baixas alemãs
da guerra foram contra os soviéticos.
Um conflito mundial com uma Rússia
mais frágil, não-industrializada, des-
cambaria numa guerra bem mais longa
e, como a Primeira, extremamente cus-
tosa. Até chegar à exaustão da população
com racionamentos.
Estariam, assim, países como a In-
glaterra e os Estados Unidos na mesma
posição da Rússia em 1917: cheios de
trabalhadores e soldados profundamen-
te revoltados com a guerra. E talvez
chegássemos à maior ironia de todas:
a implantação de ditaduras comunistas
poderia acontecer justamente nos paí-
ses capitalistas mais avançados. Como
Marx imaginava. S
Exército Voluntário (chamado “Branco”)
fundado por Kornilov.
Ninguém está chamando os bolche-
viques de bonzinhos. Os conservadores
tinham o Terror Branco, eles tinham
o Terror Vermelho – terror era uma
estratégia assumida pelos dois lados.
Mas o que estava em disputa na Guerra
Civil Russa não era a democracia liberal
versus o regime soviético. Era entre
uma ditadura comunista contra uma
ditadura de extrema direita – fascista,
apesar de esse nome só ter surgido na
Itália de 1919.
Se a Rússia não tivesse se tornado a
capital da esquerda radical, viraria a da
direita radical. Caso a monarquia fosse
restabelecida, seria como mera figura
simbólica. Não muda nada: a Itália fascis-
ta também era uma monarquia, com o rei
Vítor Emanuel III apoiando Mussolini
até a invasão aliada da Itália em 1943.
Falando em Mussolini, sem a vitória
bolchevique, figuras como ele e Hitler
talvez não tivessem o apoio crucial das
classes médias e altas para fazerem o
que fizeram. A Itália acabou por dar
poder aos fascistas em 1922, após o dito
Biênio Vermelho, dois anos de agitação
revolucionária movida por conselhos
de trabalhadores industriais, inspira-
dos nos sovietes russos. A Alemanha
chegou a ter um regime comunista, a
República Soviética da Bavária – que
durou menos de um mês em 1919.
Sem o medo dos comunistas, não
seria tão fácil a essas figuras barulhen-
tas de classe baixa ganharem o apoio
crucial dos industriais para obter o po-
der absoluto. Hitler mesmo inventou
que os judeus da Alemanha estariam
trabalhando com os comunistas sovi-
éticos, numa conspiração lunática que
ele chamava de “judeo-bolchevismo”.
Sem Hitler, não haveria a Segunda
Guerra como a conhecemos. Mas o
conflito poderia vir com outros pro-
tagonistas. A Grande Depressão, ini-
ciada em 1929, arrasaria as economias
do mesmo jeito – inclusive a russa, que,
em sua versão soviética, estava isolada
da economia mundial e passaria os anos
1930 se industrializando brutalmente
sob Stalin.
Quando a miséria levasse a agitações
sociais nessa Rússia de extrema direita,
os sentimentos bélicos aflorariam. Não
apenas lá. O mesmo aconteceria nas
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