Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

— em elementos necessários ao bem universal. O acidental, o negativo, o
anormal, numa palavra, o humano poderão se desenvolver sem provocar a
destruição geral, integrando-se num projeto harmonioso... Esta casa é o campo
ideal para verificar se estou no caminho certo. Por isso, peço-lhes que me
recebam entre vocês como inquilino, como amigo...
A casa queimou, todos morreram, mas na memória do computador eu posso
arrumar os fatos segundo uma lógica diferente, entrar eu mesmo na máquina,
inserir um Waldemar-programa, elevar a seis o número de personagens,
expandir novas galáxias de combinações e permutações. Eis que a casa ressurge
das cinzas, todos os moradores retornam à vida, eu me apresento com a minha
mala de fole, com os meus tacos de golfe, peço para alugar um quarto...
A senhora Roessler e os outros me ouvem calados. Desconfiam. Suspeitam
de que eu trabalhe para a companhia de seguros, que tenha sido mandado por
Skiller...
Não se pode negar que as suspeitas têm fundamento. Sem a menor dúvida, é
para Skiller que eu trabalho. Pode ter sido ele que tenha me pedido para ganhar
a confiança deles, estudar seus comportamentos, prever as consequências de
suas más intenções, classificar estímulos, impulsos, gratificações, quantificá-los,
armazená-los no computador...
Mas se esse Waldemar-programa não passa de uma réplica do Skiller-
programa, inseri-lo nos circuitos é uma operação inútil. Skiller e Waldemar
precisam ser antagônicos, o mistério se resolve numa luta entre nós dois.
Na noite chuvosa duas sombras se roçam na passarela enferrujada que leva
àquilo que outrora deve ter sido um bairro residencial de subúrbio e do qual
agora só resta uma pequena vila troncha no alto de uma duna entre os
cemitérios de automóveis; as janelas acesas da pensão Roessler afloram na
neblina como na retina de um míope. Skiller e Waldemar ainda não se
conhecem. Sem que um e outro saibam, eles rodam em volta da casa. De quem
deve ser o primeiro gesto? É incontestável que o corretor tem um direito de
precedência.
Skiller bate à porta. “Queira me desculpar, estou fazendo uma pesquisa para
a minha companhia sobre as incidências do meio ambiente nas catástrofes. Esta
casa foi escolhida como amostra representativa. Com a sua licença, gostaria de
ter sob observação o comportamento de vocês. Espero não incomodá-los
demais: terei de preencher alguns formulários de vez em quando. Como
compensação, a companhia lhes oferece a possibilidade de fazerem em
condições especiais seguros de vários tipos: de vida, de imóveis...”
Os quatro escutam calados; cada um deles já está pensando em como tirar
partido da situação, está tramando um plano...
Mas Skiller mente. O seu programa já previu o que cada morador da casa

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