um de nós tem direito às suas opiniões e a empresa não deve se meter nelas.
Daquela vez o fim justificava os meios, creio eu, e foi a única exceção.
INTERLOCUTOR — Mas, Mister Ford, deixe-me entender: o senhor é o
homem que mudou a imagem do planeta graças à organização industrial, à
motorização... O que os passarinhos têm a ver com tudo isso?
HENRY FORD — Por quê? O senhor também é desses que acreditam que
as grandes fábricas fizeram desaparecer as árvores, as flores, os pássaros, o
verde? O contrário é que é verdade! Só sabendo nos servir da maneira eficaz das
máquinas e da indústria é que teremos tempo para usufruir da natureza! Meu
ponto de vista é muito simples: quanto mais tempo e mais energia
desperdiçamos, menos nos resta para gozarmos a vida. Não considero os carros
que levam meu nome como simples carros: quero que sirvam para testar a
eficácia da minha filosofia...
INTERLOCUTOR — O senhor quer dizer que inventou e fabricou e
vendeu automóveis para que as pessoas pudessem se afastar das fábricas de
Detroit e ouvir cantar os pássaros nos bosques?
HENRY FORD — Uma das pessoas que mais admirei foi um homem que
dedicou sua vida a observar e descrever os pássaros, John Burroughs. Era um
inimigo jurado do automóvel e de todo o progresso técnico! Mas consegui fazê-
lo mudar de ideia... As recordações mais belas de minha vida são as semanas de
férias que organizei com ele, Burroughs, e os outros professores meus e amigos
mais queridos, o grande Edison, e Firestone, o dos pneus... Viajávamos em
caravanas de automóveis pelas montanhas Adirondacks, pelas Alleghanys,
dormíamos em barracas, contemplávamos os crepúsculos, as auroras acima das
cachoeiras...
INTERLOCUTOR — Mas o senhor não acha que uma imagem como
essa... em relação ao que se sabe a seu respeito... o fordismo... pode, como
dizer?, nos desviar... é uma evasão para longe de tudo o que é essencial?
HENRY FORD — Não, não, o essencial é isso. A história da América é
uma história de deslocamentos entre horizontes infinitos, uma história de meios
de transportes: o cavalo, as carroças dos pioneiros, as ferrovias... Mas só o
automóvel deu aos americanos a América. Só com o automóvel eles se
tornaram donos da extensão do país, cada indivíduo se tornou dono do seu meio
de transporte, dono do seu tempo, no meio da imensidão do espaço...
INTERLOCUTOR — Devo lhe confessar que a ideia que tínhamos para o
seu monumento... era um pouco diferente... tendo as fábricas ao fundo... cadeias
de montagem... Henry Ford, o criador da fábrica moderna, da produção em
série... O primeiro automóvel como produto de massa: o famoso modelo “T”...
HENRY FORD — Se é uma epígrafe que vocês procuram, podem gravar o
texto do anúncio com que lancei no mercado o “Ford T”, em 1908. Não que eu
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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