Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

algum dia tenha precisado de publicidade para os meus carros, nada disso!
Sempre afirmei que a publicidade é inútil, um bom produto não precisa dela, faz
publicidade de si mesmo! Mas naquele folheto havia as ideias que eu queria
difundir. É na publicidade como educação que eu creio! Leia, leia.
Construirei um carro para o grande público. Será suficientemente grande
para uma família, mas pequeno o bastante para que possa satisfazer às
exigências de um indivíduo. Será construído com os melhores materiais, pelos
melhores homens que se podem encontrar no mercado, seguindo os projetos
mais simples que a moderna engenharia pode fornecer. Mas terá um preço tão
baixo que não haverá nenhum homem com um bom salário que não esteja em
condições de possuí-lo e gozar com a sua família da bênção de algumas horas de
prazer nos grandes espaços abertos por Deus.
INTERLOCUTOR — O “Ford T”... Por quase vinte anos as fábricas de
Detroit só produziram esse tipo de automóvel... O senhor falava das exigências
dos indivíduos... Mas lhe atribuem também essa tirada: “Cada cliente pode
querer o carro da cor que preferir, contanto que seja preto”. O senhor disse
realmente isso, Mister Ford?
HENRY FORD — Sim, disse e escrevi. Como imagina que consegui baixar
os preços, colocar o automóvel ao alcance de todos? Imagina que eu teria
conseguido se tivesse produzido novos modelos todo ano, como os chapéus para
as senhoras? A moda é uma das formas de desperdício que detesto. Minha ideia
era um automóvel do qual cada peça fosse substituível, de modo que nunca
envelhecesse. Só assim consegui transformar o carro, de objeto de luxo, de bem
de prestígio, num instrumento de primeira necessidade, que vale para aquilo que
serve...
INTERLOCUTOR — Foi uma grande mudança na mentalidade industrial.
Daí em diante os esforços da indústria mundial procuraram satisfazer o
consumo de massa, fazer crescer a demanda desse consumo. Foi justamente
por isso que a indústria se orientou para os produtos que pudessem deteriorar
depressa, que fossem jogados fora o mais rápido possível, a fim de que pudesse
vender outros... O sistema que o senhor inaugurou deu resultados que vão contra
todas as suas ideias fundamentais: produzem-se coisas que se gastam depressa,
ou saem logo de moda, para darem lugar a outros produtos que não valem mais
que os primeiros, mas que parecem mais novos e cuja sorte depende apenas da
publicidade.
HENRY FORD — Não era isso que eu queria. Tem sentido mudar
enquanto não se chegou àquele único modo ótimo de produzir, que deve existir
para cada coisa, e que garante tanto a máxima economia como o melhor
rendimento. Há um e só um caminho para fazer cada coisa da melhor maneira
possível. Quando ele é atingido, por que mudar?
INTERLOCUTOR — Seu ideal é, portanto, um mundo de carros todos

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