Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

bem da América e também pelo bem deles, dessas pessoas diferentes de nós,
que, se quisessem participar da nossa comunidade, deviam compreender quais
são os verdadeiros princípios americanos... aqueles com os quais honra-me ter
conduzido a minha empresa...
INTERLOCUTOR — O senhor realizou muitíssimo na fabricação das
coisas, Mister Ford... E também teorizou muito... Mas enquanto as coisas
correspondiam sempre às suas previsões e aos seus projetos, os homens não, pois
nos seres humanos havia sempre algo que lhe escapava, que frustrava as suas
expectativas... É assim?
HENRY FORD — Minha ambição não foi só fazer as coisas. O ferro, a
chapa metálica, o aço não bastam. As coisas não são fins em si mesmas. Era
num modelo de humanidade que eu pensava. Não fabricava apenas
mercadorias. Queria fabricar homens!
INTERLOCUTOR — Gostaria que o senhor se explicasse melhor sobre
esse ponto, Mister Ford. Posso me sentar? Posso acender um cigarro? Quer um?
HENRY FORD — Nãããão! Aqui não se fuma! Os cigarros são um vício
aberrante! Nas fábricas Ford os cigarros são proibidos! Dediquei à campanha
contra o fumo anos de energia! Até Edison me deu razão!
INTERLOCUTOR — Mas Edison fumava!
HENRY FORD — Só charutos. Alguns charutos eu também posso permitir.
Cachimbo também. Fazem parte das tradições americanas. Mas cigarro, não!
As estatísticas dizem que os piores criminosos são fumantes de cigarros. O
cigarro leva direto aos bas-fonds! Publiquei um livro contra o cigarro!
INTERLOCUTOR — Não acha que, além do cigarro, poderia ter se
preocupado com os efeitos do ritmo de trabalho na saúde? Ou com a poluição
provocada por suas fábricas? Ou pelo fedor de nafta que sai dos canos de escape
de seus automóveis?
HENRY FORD — Minhas fábricas estão sempre limpas, bem iluminadas e
ventiladas. Posso lhe provar que, quanto a preocupações com a higiene, ninguém
teve mais que eu. Agora estou falando da moral, da mente. Meu projeto exigia
homens sóbrios, trabalhadores, éticos, com uma vida familiar serena, uma casa
limpa e arrumada!
INTERLOCUTOR — Por isso o senhor instituiu um corpo de inspetores
que investigavam a vida privada de seus empregados? Que metiam o nariz nos
amores, na vida sexual de mulheres e homens?
HENRY FORD — Um empregado que vive corretamente fará seu
trabalho corretamente. Selecionei meu pessoal não só com base no rendimento
do serviço, mas também na moralidade da família. E se preferia contratar
homens casados, bons pais de família de preferência a libertinos, beberrões e
jogadores, isso também correspondia a critérios de eficiência. Quanto às

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