Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

HENRY FORD — Comprei uma antiga taberna em Sudbury, em
Massachussetts, com sua tabuleta, seu pórtico... Também mandei reconstruir a
estrada de terra batida por onde passavam as caravanas indo para o Oeste...
INTERLOCUTOR — É verdade que, para restituir o ambiente do tempo
dos cavalos e das diligências em torno dessa velha hospedaria, o senhor mandou
desviar a autoestrada, aquela autoestrada pela qual roncam a toda velocidade os
carros Ford?
HENRY FORD — Há lugar para tudo na nossa América, não acha? O
campo americano não deve desaparecer. Sempre fui contra o êxodo rural dos
agricultores. Projetei um complexo hidrelétrico no Tennessee para fornecer
energia a baixo custo aos agricultores. Tivesse eu lhes fornecido
eletrodomésticos, adubos, e eles teriam se mantido longe das cidades. Não
quiseram me ouvir, nem o governo nem os farmers. Nunca entendem as ideias
simples; as funções elementares da vida humana são três: a agricultura, a
indústria e os transportes. Todos os problemas dependem de como se planta,
como se fabrica e como se transporta, e sempre propus as soluções mais
simples. O trabalho do agricultor era inutilmente complicado. Só cinco por
cento da energia deles era empregada de forma útil.
INTERLOCUTOR — Não sente saudades daquela vida, então?
HENRY FORD — Se o senhor acha que sinto saudades de alguma coisa do
passado, quer dizer que não entendeu nada de mim. Não dou a menor
importância ao passado! Não creio na experiência da história! Pois é, encher a
cabeça das pessoas com a cultura do passado é a coisa mais inútil que se pode
fazer.
INTERLOCUTOR — Mas o passado significa experiência... Na vida dos
povos e na das pessoas...
HENRY FORD — Até mesmo a experiência individual não serve para nada
além de perpetuar a recordação dos fracassos. Na fábrica, os especialistas só
sabem dizer que não se pode fazer isso, que aquilo já foi testado mas não
funciona... Se eu tivesse dado ouvidos aos especialistas, nunca teria realizado
nada do que consegui realizar, teria me desencorajado desde o início, nunca
teria conseguido montar um motor a explosão. Naquela época os especialistas
pensavam que a eletricidade podia resolver tudo, que os motores também
deviam ser elétricos. Todos estavam fascinados por Edison, com muita razão, e
eu também estava. E fui perguntar a ele se achava que eu era um louco, como
diziam, porque teimara em fazer funcionar um motor que fazia “tuff, tuff”. E
então ele mesmo, Edison, o grande Edison, me disse: “Meu jovem, vou lhe dizer
o que penso. Trabalhei com a eletricidade toda a minha vida. Pois bem, as
máquinas elétricas nunca poderão se afastar demais das estações de
abastecimento. Inútil pensar em levar junto as baterias dos acumuladores: são
pesadas demais. Nem mesmo as máquinas a vapor são o ideal: precisarão

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