Descemos e fechamos. Estamos debaixo da água, tateamos entre sensações
disformes. O mamute circula pelo quarto, velho medo humano.
— Fale.
Tirei-lhe a boina de marinheiro e a fiz voar sobre a cama.
— Não. Eu já vou embora.
Coloca-a de novo na cabeça, eu a agarro e jogo-a pelos ares, voando, agora
nos perseguimos, brincamos de dentes trincados, o amor, é isso o amor de um
pelo outro, desejo mútuo de arranhões e mordidas, socos também, nas costas,
depois um beijo exausto: o amor.
Agora fumamos sentados frente a frente: os cigarros parecem enormes
entre nossos dedos, como objetos que seguramos debaixo da água, grandes
âncoras afundadas. Por que não somos felizes?
— O que você tem? — perguntou Mariamirella.
— O mamute — digo.
— O que é? — diz.
— Um símbolo — digo.
— De quê? — diz.
— Não se sabe de quê — digo. — Um símbolo. Uma noite, sabe, eu estava
sentado na beira de um rio com uma moça.
— Como se chamava?
— O rio se chamava Pó, e a moça, Enrica. Por quê?
— Nada: gosto de saber com quem você esteve antes.
— Bem, estávamos sentados no mato, à beira do rio. Era outono, de noite, as
margens já estavam escuras, e pelo rio descia a sombra de dois homens em pé,
remando. Na cidade começavam a aparecer as luzes e estávamos sentados na
margem do outro lado do rio, e havia entre nós aquilo que se diz ser amor, esse
rude descobrir-se e procurar-se, esse áspero sabor um do outro, sabe como é, o
amor. E havia em mim tristeza e solidão, naquela noite na margem das negras
sombras dos rios, tristeza e solidão dos novos amores, tristeza e saudade dos
velhos amores, tristeza e desespero dos amores futuros. Don Juan, triste herói,
velha danação, tristeza e solidão e mais nada.
— Comigo também, assim? — disse Mariamirella.
— E se agora você falasse um pouco, se dissesse um pouco o que sabe?
Comecei a gritar com raiva; às vezes, enquanto a gente fala, ouve como um
eco, e se enfurece.
— O que você quer que eu diga? Dessas coisas, de vocês, homens, eu não
consigo entender.
Assim é: as mulheres só tiveram informações falsas sobre o amor. Muitas
informações diferentes, todas falsas. E experiências inexatas. No entanto,
sempre confiantes nas informações, não nas experiências. Por isso têm tantas
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1